Há praticamente 190 anos, Beethoven presenteava o Arquiduque Rodolfo com sua recém-terminada obra-prima coral.
O mundo de Beethoven se despedaçava. Quando ele começou a compor a Missa Solemnis, sua obra-prima coral, em 1819, sua audição havia-se deteriorado tanto que conversar com ele só era possível escrevendo em um caderno. Durante os anos seguintes, ele sofreu uma variedade de desagradáveis distúrbios de saúde, inclusive febre reumática, “gota no peito” e icterícia – o primeiro sinal de seu fatal distúrbio hepático. E como se estas aflições não fossem suficientes, alguns meses antes o compositor fora forçado a abrir mão da guarda do sobrinho Karl, depois de anos de embates legais com a mãe do menino de 12 anos.
A adoção do sobrinho por Beethoven em 1816 provavelmente fez com que o compositor reassumisse sua fé religiosa, já que ele queria oferecer ao garoto uma forte formação moral e religiosa. Em 1817, ele escreveu em seu diário: “Deus, Deus, meu refúgio, minha rocha, meu tudo.
Tu vês no fundo do meu coração e sabes como me dói ser obrigado a forçar outrem (a mãe de Karl) a sofrer devido às minhas boas intenções para com meu precioso Karl!!!
Oh, ouve-me sempre, Ser inefável, ouve-me – teu infeliz, o mais infeliz de todos os mortais”.
Quando o tribunal, em 1818, perguntou a Karl se Beethoven o havia ensinado a rezar, ele respondeu que os dois rezavam juntos toda manhã e toda noite.
Em sua crescente reclusão, busca espiritual e angústia destrutiva, Beethoven pode muito bem ter-se debatido com a ideia de compor uma obra religiosa durante um certo tempo. Quando, no início de 1819, ele descobriu que seu aluno, amigo e patrono, o Arquiduque Rodolfo, seria nomeado Arcebispo de Olmütz, com a entronização devendo ocorrer em 9 de março de 1820, o compositor viu no fato a perfeita razão de ser para uma Missa Solemnis e começou a compor com afinco para a ocasião.
Contudo, Beethoven continuava a pleitear a guarda de Karl. Isto se revelou um considerável desgaste financeiro e de inspiração, e boa parte do tempo do compositor teve que ser gasto em peças comparativamente curtas e de retorno financeiro (como as Sonatas para piano op. 109-11) para aplacar os credores. Consequentemente, a Missa Solemnis demorou mais tempo que o planejado para ser composta. A precária situação financeira de Beethoven resultou em algumas negociações perfeitamente questionáveis com diferentes editores – em fevereiro de 1823 ele se referiu a não menos que três missas em suas diferentes correspondências!
Em 19 de março de 1823, Beethoven entregou uma cópia da Missa Solemnis ao Arquiduque Rodolfo. Os quatro anos decorridos entre a concepção e o término desta obra monumental haviam-lhe consumido mais tempo e energia que qualquer outra obra. Beethoven acabou vendendo-a à editora Schoot por 1000 florins, mas antes vendeu cópias a dez assinantes – entre eles o czar da Rússia e os reis da França, Prússia e Dinamarca – por 50 ducados cada. Com os olhos fixos no reino de Deus, talvez Beethoven tivesse esquecido seus problemas financeiros.
Fonte: Revista Classic CD, Nº 19
AUDIÇÃO COMENTADA
Faixa 01 - Beethoven, Missa Solemnis, op. 123 - “Sanctus” - Trecho
A Missa Solemnis é uma obra colossal e, juntamente com a Missa em Si Menor de Bach, é o Everest do gênero. Os esboços de Beethoven para a obra foram prodigiosos, culminando em um trabalho de extrema complexidade e sutileza.
Contudo, a profundidade intelectual da missa é equiparada por sua apaixonada constituição religiosa. Como escreveu Beethoven: “Meu principal objetivo ao escrever essa grande Missa foi despertar e instilar permanentemente o sentimento religioso não apenas nos cantores, mas também nos ouvintes”.
Partindo de uma abertura orquestral misteriosa e contida, a música deste extrato, o Sanctus, logo explode em um alegre louvor coral: “Santo, Senhor Deus dos exércitos, o céu e a terra estão cheios da Tua glória. Hosana nas alturas”.
Faixas seguintes, Missa Solemnis, op.123 – Completa
02 – Kyrie
03 – Glória
04 – Credo
05 – Sanctus
06 – Agnus Dei
2 comentários:
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