O quinteto reflete a grande escala da paisagem campestre em miniatura
Robert Schumann (1810-56), pertencente à primeira geração de compositores alemães românticos, tendia a concentrar suas energias em uma forma musical por vez.
Durante a década de 1830, enquanto brigava com o futuro sogro, que tinha outros planos para a filha pianista, Schumann abria o coração em uma série de peças para piano solo, entre elas: Carnaval de Viena, Cenas Infantis e a Fantasia em dó maior. Então, em 1840, tendo conseguido a autorização do senhor Wieck para se casar com Clara, os talentos líricos de Schumann, quase iguais aos de seu adorado Schubert, revelaram-se em uma série de canções, muitas das quais lhe garantiram a imortalidade. Em 1841, seus pensamentos voltaram-se para a música orquestral e, particularmente, sinfônica. Sua herança alemã significava que, embora seu maior talento fosse para as miniaturas, ele tinha uma enorme urgência em se expressar em grande escala. Então compôs o que hoje conhecemos como a Primeira e a Quarta Sinfonias, e uma variedade de outras obras maravilhosas.
No ano seguinte, foi a vez da música de câmara. Como sucessor de Beethoven, era vital provar que seria capaz de escrever grandes quartetos de corda e outras obras para pequenas forças. Nesse ano, Schumann compôs seus três únicos quartetos para cordas, dedicando-os a “meu amigo Felix Mendelssohn Bertholdy”. Ele também escreveu o Quarteto com piano e a mais bela de suas obras de câmara, o Quinteto com piano Op. 44. Schumann estava no auge da felicidade, ainda sem qualquer sinal da depressão que finalmente o levaria à tentativa de suicídio e à internação. Ele precisou de menos de três semanas para compor o Quinteto, durante o mês de outubro de 1842. A obra foi dedicada a Clara, e ela participou da primeira execução. Foi um enorme sucesso que aumentou a reputação de Schumann mais que qualquer outra de suas obras anteriores ou posteriores. Na segunda execução, Clara estava doente, e Mendelssohn foi convocado às pressas, tocando a parte do piano à primeira vista.
Impressionado com o Quinteto, ele sugeriu a Schumann que alterasse o terceiro movimento, o Scherzo, acrescentando algo mais vivaz como segundo trio. Schumann assim procedeu imediatamente, e o resultado é o que hoje ouvimos, um dos trechos mais fascinantes de uma obra de contínua inspiração.
DESVENDANDO O QUINTETO
Ouça enquanto lê
Ele começa de maneira hilariante, com todos os cinco instrumentos (piano, dois violinos, viola e violoncelo) tocando em alto e bom som; a indicação Allegro brillianterefere-se mais ao caráter que ao andamento. Cada uma das quatro mínimas da abertura é acentuada; na verdade a acentuação atinge-nos como forma de alegria, nunca de insistência. O que é o único em Schumann é o fato de ele ser simultaneamente vigoroso e lírico. E o que é ainda mais notável, enquanto a maioria dos compositores acham que a sustentação da melodia pelos instrumentos de corda torna o som do piano arquejante, Schumann faz que o pianista ceda a melodia às cordas na maior parte de sua obra. Assim, depois das explosões da abertura, o piano dá início um arrebatador segundo tema que logo é tomado pelo primeiro violino; e embora o pianista limite-se ao acompanhamento, nunca existe, como se poderia esperar, a sensação de que os instrumentos estão soando uns contra os outros. Tudo contribui para um calor expressivo e difuso.No segundo movimento, À maneira de uma marcha, o primeiro violino toca uma melodia que pode facilmente soar fúnebre ou espectral, mas nunca as duas coisas.
Nenhuma destas duas disposições de ânimo condiz com o resto da obra ou com o resto deste movimento, pois depois de um minuto, a marcha cede lugar a uma melodia penetrante e sublime no primeiro violino e no violoncelo, o que nos faz sentir que Brahms, que venerava Schumann, recebeu a mais sincera forma de homenagem. A marcha retorna, e o segundo episódio é marcado agitatto, com uma figuração angular para o piano, e as quatro cordas em uníssono. A marcha transforma-se em um tema lírico, e a melodia à la Brahms volta gloriosa e voluptuosa.
O Scherzo é um movimento alegre e agitado, com escalas ascendentes para o piano, logo imitado pelos outros instrumentos. Há dois trios, o primeiro lírico, e o segundo – por sugestão de Mendelssohn – disparado e cromático. O último movimento é uma combinação entre a forma sonata e a fuga, um movimento “viajante”, do tipo schubertiano, mas depois de um grande clímax, Schumann prepara-nos uma surpresa: o primeiro tema de toda a obra retorna e recebe um pleno tratamento em fuga.
Fonte: Revista Classic CD nº 17
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