domingo, 29 de maio de 2011

Serie: "Esta Música é Arte?" Capítulo 2 - O Teste de Dante - Nível 1: O Literal

Quadro "The Beach Boys" de Peter Blake
Bem-vindo caro leitor e cara leitora ao nosso caminho para descobrir se "Esta Música é Arte". No capítulo anterior (para ler, clique AQUI) foram estabelecidos os parâmetros e critérios, e no primeiro artigo da serie, conhecemos sua proposta (para ler clique AQUI). Para facilitar o acompanhamento da serie, criei um menu especial (para ver clique AQUI). Vamos começar? Se você escolheu uma música conforme proposto no artigo anterior, peço que a escute neste momento. Escute tranquilamente, sem grande atenção, apenas se divirta.

NIVEL 1 - O LITERAL

Para acompanhar esse nível é necessário (0 a 10):
  • Conhecimento musical: 0
  • Conhecimento técnico/teórico: 0
  • Atenção à música: 2
  • Boa vontade: 5
Segue abaixo algumas frases de artistas que podem contribuir para o entendimento do artigo:

"Novos mundos precisam ser vividos antes de poderem ser analisados"
Alejo Carpentier - escritor
"[...] Mas a simplicidade nunca é simples."
Agnes Martin - crítica de arte
"Conceber é fácil. Qualquer idiota pode ter uma boa ideia. O difícil é fazer."
Christo Yavashev - pintor
"Não estou interessada em obras grandes. Uma coisa não precisa ser grande para ser boa."
Elizabeth Bishop - escritora
"Não há motivo para que uma obra de arte seja sempre maravilhosa para as pessoas."
Gilbert Proesch - pintor 

A base de nossa pirâmide analítica é o campo LITERAL. Aqui não é necessário ouvir a música, basta escutá-la. Por mais estranho que possa parecer essa frase, ela não é contraditória. Quando falo "ouvir", me refiro àquela audição atenta onde os detalhes são notados, por outro lado, "escutar" está no sentido mais simples, ou seja, o literal. Para escutar uma música, basta executá-la, ela tomará conta do ambiente ou será apenas uma parte integrante dele. Nesse momento, basta escutarmos passivamente, em outras palavras, deixarmos a música rolar.

A música é criada em cima de ritmos. Eles podem ser regulares ou não, agitados, calmos ou "cadenciados", não importa, o que importa aqui é que mexem com o corpo. Estimulam uma dança, uma vontade de movimentar o corpo, nem que seja através de um simples bater de pé. Isso pode ocorrer com o "escutador" mesmo ele dando pouca ou nenhuma atenção para a música. Esse é o poder LITERAL.

Praticamente todas as músicas têm esse poder, uma possível exceção talvez seja a música 4'33" de John Cage (que é tão revolucionária que forçou a mudança desse paradigma, para conhecer, CLIQUE AQUI). Portanto, qualquer música analisada avançará para o próximo nível do Teste de Dante, inclusive a que você escolheu - sem nenhum esforço. O que muda de uma música para outra é o GRAU LITERAL que ela tem, e é sobre isso que vamos tratar agora.

AVALIAÇÃO

Apesar de praticamente todas as músicas do mundo possuírem a literalidade, ela é encontrada em graus diferentes em cada uma delas. Se você quer identificá-lo baseado nos parâmetros estabelecidos nos artigos anteriores, deve observar o seguinte:
  • Seu gosto pessoal, ou o efeito que a música causa em você pode ser levado em conta, mas não é essencial;
  • O gosto geral é importante, ou seja, o sucesso da música É parâmetro aqui;
  • O contexto, ou seja, a época em que foi lançada;
  • A letra tem pouca ou nenhuma importância.
Em outros termos, se você quiser enxergar desta forma, as músicas que atingirem altos graus serão boas e as de baixo grau, ruins - ao menos no que se refere ao conceito LITERAL.

Veja os efeitos que devemos procurar para altos graus de qualidade literal no vídeo abaixo:


Apesar de ser exagerado por ser tratar de um filme, acho que o exemplo deixa bem claro o que estamos procurando. Repare como a música é recheada de elementos que provocam essas reações nos ouvintes em geral. Independentemente de terem sido introduzidos na música com o objetivo de fazer sucesso ou por simplesmente expressarem as vontades dos compositores, o fato indiscutível é que o resultado foi eficiente.

Note o ritmo contagiante, a expressividade do cantor (tanto John Lennon quanto Ferris Buller), as paradas estratégicas que levam ao clímax, a letra convocando o ouvinte a se agitar (shake,shake), etc, etc. Temos aqui uma fórmula para o sucesso!

Ouça outros exemplos equivalentes em qualidade. É necessário ouvir para melhor compreender, ao menos um trecho de cada faixa. (Surpresa!!!):

Se você não gosta de algumas das músicas listadas (ou de todas), ok, não há problema, mas uma coisa é necessário reconhecer: elas não são boas, são EXCELENTES, ao menos no sentido literal, e não adianta espernear! Se você é daqueles que afirma com toda a convicção que essas músicas são lixo, está na hora de rever seus conceitos. Elas podem não ter mais nenhuma outra qualidade (ou podem), mas ao menos em um aspecto são EXCEPCIONAIS, goste você ou não delas.

Por mais simples que pareça ser (ou não), a playlist que ouvimos possui resultados EXTREMAMENTE DIFÍCEIS de serem alcançados. Não pense que os "gritinhos", contracantos, pausas e retomadas, riffs, etc. sejam coisas primárias, ao contrário, são cuidadosamente planejados e calculados por músicos e produtores de alto nível (Quincy Jones e Jay Z, para ficar em algumas das faixas da playlist), e tudo isso com o objetivo de alcançar a excelência literal, e por consequência, o sucesso.

Por outro lado, se você adorou a seleção, agora tem uma razão para afirmar para aqueles amigos preconceituosos que eles estão enganados ao tripudiar do que você ouve. Porém, não limite seu mundo musical por aqui, há muito ainda a explorar e outras qualidades a serem observadas.

Entretanto não podemos afirmar de modo algum que encontramos arte, este é só o primeiro nível, restam ainda três. Será que alguma das músicas utilizadas como exemplo ou a que você escolheu, passará do próximo? Veremos domingo que vem, mas outra coisa é certa: se você quer agitar em uma festa, não há tipo de música melhor do que as excelentes literalmente!

Peço a você, que antes de formar um juízo sobre este artigo, dê mais uma lida nas frases dos artistas colocadas no início do texto. Depois de formado, mande-me um comentário!

Abraços!


Nível 1 - O Literal - Quando a música te pega pelo pé (ou pela cabeça, no sentido de balançar o coco)

Até a semana que vem na sequência de nossa investigação!


REFERÊNCIAS:

Esta serie é inspirada no seminário e no texto "Música e Estética 4" do professor Sidney Molina

O "Teste de Dante" foi descoberto pelo professor e filósofo Ricardo Rizek na Epístola XIII atribuída a Dante Alighieri

As frases foram extraídas dos livros "501 Grandes Escritores" e "501 Grandes Artistas", ambos da editora Sextante

Esta serie conta com a supervisão e consultoria da professora de música e musicoterapeuta Flávia B. Nogueira e é escrita na íntegra por mim, Rodrigo Nogueira, professor de música, de história da música e graduando em filosofia.

A reprodução total ou parcial da serie é possível apenas mediante autorização do autor. Para solicitar a autorização, envie um comentário ou um e-mail para rodmanog@gmail.com

domingo, 22 de maio de 2011

Serie "Esta Música é Arte?" Capítulo 1 - Parâmetros


Antes de iniciarmos nossa investigação sobre que músicas podem ser consideradas arte, é fundamental que estabeleçamos alguns parâmetros que nos servirão de referências para o processo. Poderíamos optar por vários caminhos e todos eles seriam discutíveis, mas é necessário estabelecer um para percorrermos, senão, permaneceremos estáticos e sem direção.

O primeiro, na verdade, é o ponto final de nossa busca, o que esperamos encontrar: O QUE É ARTE.

ARTE

J. J. Rousseau
O conceito primário de arte nos remete a origem do termo, que é artefato. A grosso modo, artefato é tudo o que é realizado pelo homem que não é feito puramente por natureza, ou seja, por instinto. Segundo o filósofo Jean Jaques Rousseau, as únicas coisas que o ser humano faz apenas por natureza é se alimentar - comer e beber -, descansar e  sexo. Qualquer coisa além disso é artefato, artifício; em outras palavras: ARTE. Desse ponto de vista todos nós somos artistas, e arte por princípio, não é algo natural.

Porém, há um conceito que é mais restrito. Ele parte da ideia genérica que são as realizações humanas, mas são julgados como arte apenas quando atingem o grau de EXCELÊNCIA. Essa excelência não é medida entre o artista e ele mesmo, mas sim entre a realização do artista e a da espécie humana como um todo. Em outras palavras, não é a minha excelência que está em jogo, mas a excelência humana enquanto espécie.

Um exemplo: por mais que eu, indivíduo Rodrigo, me esforce para criar alguma coisa e chegue ao máximo de minhas capacidades, isso não significará que criei arte, pois o parâmetro não sou eu. Apenas será arte se a minha criação estiver em um grau de excelência se for comparada com a capacidade da humanidade como um todo, então pouco importa se me esforcei ou atingi o meu máximo. Portanto, desse ponto de vista, poucos de nós somos artistas e a arte é algo EXCEPCIONAL. É isso que buscaremos em nossas análises.

MÚSICA COMO ARTE

Como escrevi na introdução desta serie (leia aqui!), a música como um todo É arte, e a explicação para isso foi dada acima, ou seja, é uma realização humana não proveniente de sua natureza. Mas uma música em particular pode ou não ser, isso vai depender do seu grau de excelência frente à capacidade da espécie humana de produzir música, de sua excepcionalidade. Assim podemos perceber que esta excepcionalidade está diretamente ligada à HISTÓRIA e PROGRESSOS humanos. Desse modo, a música analisada deverá ser inserida nestes contextos, o que fará com que uma música "antiga", mesmo nitidamente ultrapassada hoje, não perderá seu valor artístico se, na época de sua criação atingira a excepcionalidade. Estabelecemos assim nosso "pano de fundo".

Para não deixarmos a análise apenas no subjetivismo individual de quem a faz, cabe agora inserirmos quais as características e critérios serão observados na obra musical para atribuir-lhe o status de arte, o MÉTODO. O escolhido foi o "Teste de Dante" (já falei dele na introdução da serie).

Para Dante, há quatro características a serem investigadas, as quais chamarei de NÍVEIS. A música deverá passar por todos os níveis e a excelência será relevante para a classificação artística nos terceiro e quarto níveis, mas o primeiro e segundo também deverão ser satisfeitos, embora a excelência não seja exigida, pois se for, não chegaremos simplesmente à arte, mas à PERFEIÇÃO e não creio que isso seja provável.

1º Nível - LITERAL
2º Nível - MORAL
3º Nível - ANALÓGICO
4º Nível - ANAGÓGICO

Em diagrama fica assim:

Teste de Dante

VAMOS FAZER JUNTOS?

Para deixar nossa investigação mais interessante, que tal aplicarmos na prática? Tenho uma proposta a fazer caro leitor: escolha uma música. Fique a vontade, escolha a que quiser, apenas procure alguma que por instinto você acredita ser arte. Você tem uma semana, escolha bem, vamos submetê-la ao Teste de Dante! Se quiser, você pode escrever seus progressos e observações nos comentários! Todos nós que amamos música temos a tendência a julgá-las, isso é normal. Tentemos fazer isso agora de uma forma quase científica. Acho que vai ser divertido! Está comigo?


OBSERVAÇÕES FINAIS

Repito aqui que o objetivo não é mudar gostos, embora isso possa ocorrer; vamos trabalhar sobre os preconceitos. Vou afrontar todos os seus preconceitos musicais, até aqueles que você nem sabe que tem serão aflorados. Mas mantenha-se firme! Antes de concordar ou discordar, reflita sobre o que foi escrito. Pode opinar e criticar, use os comentários, vamos trocar ideias!

Aguardo você domingo que vem quando iremos começar a desfazer os mitos e crendices do senso comum. O debate está aberto: afinal, ESTA MÚSICA É ARTE?

Abraços,

Rodrigo Nogueira

Para montar esta serie de artigos, contei com a participação valiosa da professora de música e musicoterapeuta (além de minha esposa) Flávia B. Nogueira, que escreve regularmente no blog Música & Saúde

terça-feira, 17 de maio de 2011

Nova Serie: Esta Música é Arte? - Introdução


Uma das perguntas mais recorrentes que recebo, e que acaba virando tema de acaloradas discussões é se uma música é ou não ARTE.

Claro que em termos gerais, música é uma forma de arte, mas "não é possível crer que tantas porcarias que existem por aí possam ser consideradas obras de arte", replicam alguns.

Penso que a objeção acima tem fundamento. Então como poderíamos julgar uma música em particular e definirmos se ela é ou não arte? - Essa é a questão que abordarei nesta nova serie do blog Sons, Filmes & Afins.

Muitos podem afirmar, até com certa razão, que esse tema é subjetivo. Não é minha intenção entrar em subjetivismos, embora no decorrer da serie, ao menos em alguns momentos, eles serão inevitáveis. É necessário optar por um método e em cima dele chegar às conclusões válidas, o que de modo algum seria uma verdade incontestável, mas sim um ponto de vista e de partida para debates e trocas de ideias com você caro leitor.

Recentemente, participei de um encontro de musicoterapeutas na FMU onde este tema foi abordado com muita competência pelo professor, filósofo, músico, escritor, crítico de música e colunista da Folha São Paulo Sidney Molina. Tentarei seguir pelo caminho que ele trilhou para desvendar essa questão, embora procure somar minha interpretação, objeções e conclusões. 

Sidney Molina
Como já tratei em outras séries, para avaliar uma música, é necessária a tentativa de não misturar gostos pessoais. Como essa isenção é uma enorme dificuldade, é fundamental ater-nos ao método sem desvios. Com isso já respondemos, pelo menos em parte a pergunta: a música não é arte porque gosto dela e nem deixa de ser por eu não gostar, essa regra se aplicará a opinião de um indivíduo, mas não de uma coletividade. Entretanto, mesmo o gosto de uma coletividade sendo levado em conta para essa classificação, ele não será determinante, apenas mais um elemento.

O MÉTODO

Adaptado da ideia que faz de arte Dante Alighieri (para saber sobre ele, clique AQUI), que evidentemente se refere a arte poética, mas que pode ser aplicada sem problemas também a música.
  1. Não se deve analisar estilos ou gêneros musicais como arte, mas sim músicas individuais;
  2. Para ser arte, a música deverá satisfazer quatro critérios de avaliação (que serão expostos nos capítulos da série);
  3. Músicas serão utilizadas como exemplos mas isso não indicará necessariamente que sejam arte;
  4. Meu gosto pessoal (ou o seu) não serão relevantes e nem tampouco os preconceitos (que certamente todos temos em algum grau);
  5. Não se busca a definição moral de bom ou ruim, a não ser que a definição de música boa seja dada apenas àquelas consideradas arte;
Nota: quando alguém me pergunta se uma música é boa, sempre respondo com outra pergunta: boa em que sentido? Para mim ou para você, música boa pode ser:
  • A que eu gosto;
  • A de letra notável;
  • A de melodia notável;
  • A de harmonia notável;
  • A de ritmo notável;
  • A de criatividade notável;
  • A de técnica notável;
  • A que faz sucesso;
  • A que "toca meu coração";
  • A que me trás boas lembranças;
  • Etc.
Não pretendo entrar neste mérito, o objetivo é apontar meios para dizer quando uma música é ARTE.  Conforme veremos na conclusão da serie (por menos simpática que possa ser essa afirmativa), não é qualquer um que poderá apontar esse status, embora todos possamos, ao menos em tese, obter os meios necessários para tal empresa.

Muito importante! Não estou aqui pretensiosamente querendo afirmar quais músicas podem ser consideradas arte e quais não, apenas oferecer um caminho para quem quiser se arriscar a fazer isso, embora confesse que procure fazê-lo em meu íntimo sempre que escuto criticamente uma música.

Fica então o convite. A partir de domingo que vem começaremos a percorrer o caminho para se apontar com certa segurança se afinal ESTA MÚSICA É ARTE?

Seus comentários, críticas e objeções são desejados e necessários!

Abraços

Rodrigo Nogueira

domingo, 15 de maio de 2011

Serie "Música do Outro Mundo" - Capítulo 8C: América Latina - Audições, Indicações e Resenhas (Argentina e Haiti)



Neste último capítulo que me propus com essa serie, vamos ver e ouvir os artistas da nossa região do mundo: a América Latina. Apesar de parecer um tema óbvio e de músicas que deveriam fazer parte de nosso dia-a-dia, é provável que nos surpreendamos com a cultura musical de nosso próprio mundo, uma vez que na maioria, somos influenciados e adotamos a cultura e estética de outrem, entenda-se dos EUA e Inglaterra. Repito aqui o que disse na introdução desta serie: nada contra a música que vem desses dois países, mas nosso mundo musical é muito mais amplo, conforme essa pequena serie demonstrou.

Conheçamos então, as músicas da América Latina!

Observação: Para não tornar o artigo grande demais, dividi este capítulo em 3 partes, a saber: Capítulo 8A - Brasil; Capítulo 8B - Cuba; Capítulo 8C - Argentina e Haiti

Aproveite o artigo com calma, veja e ouça sem pressa, estamos tratando de um gênio aqui.

ARGENTINA

Astor Piazzolla - Muerte del Angel

Faixas:

1 - Verano Porteño
2 - Los Poseidos
3 - Milonga del Angel
4 - Muerte del Angel
5 - Adios Nonino
6 - Otono Porteño
7 - Retrato de Milton

Astor Piazzolla - Concierto de Nácar

Faixas:

1 - Buenos Aires Hora Cero
2 - Vadarito
3 - Fuga y Misterio
4 - Verano Porteño
5 - Concierto de Nácar para nuove tanguistas y orquestra filarmônica
6 - Allegro Marcato
7 - Moderato
8 - Presto

Astor Piazzolla - Libertango

Faixas:

CD1:
1 -  Verano Porteño
2 -  Lunfardo
3 - Decarissimo
4 - Milonga del Angel
5 - Muerte del Angel
6 - Resurrecion del Angel
7 - Adios Nonino
CD2:
1 - Tristezas de un Doble A
2 - Escualo
3 - Mumuki
4 - Contrabajisimo
5 - Libertango
6 - Chin Chin

Astor Piazzolla - Tres Minutos con la Realidad

Faixas:

1 - Luna
2 - Sexteto
3 - Tres Minutos con la Realidad
4 - Camorra II
5 - Camorra III
6 - Tango Ballet

Para Piazzolla, o tango era uma "música perigosa", pois, em primeiro lugar, com ele o músico mapeou a vida de Buenos Aires entre meia-noite e o fim da madrugada; em segundo lugar, porque suas próprias composições, influenciadas por seus estudos em Paris com Nadia Boulanger, de início ameaçaram de tal forma os músicos tradicionais do tango que um deles chegou a intimidá-lo com um revólver.

Os tangos inovadores de Piazzolla não são tradicionais danças sensuais, ou clássicas canções de destino frustrado, mas buscam uma nova linguagem musical dentro da tradição do tango, abrindo novos horizontes para o gênero. A partir de sua morte prematura em 1992, seus concertos ao vivo, como registrados nestes quatro CDs, tocando com diferentes combinações de músicos, de seu Quinteto em 1973 ao Noneto em orquestra em 1983, viraram peças de colecionadores, exibindo em diversos arranjos seu próprio senso do potencial de cada linha instrumental, com seu meditativo bandonion à frente, um instrumento muito mais importante que sua anterior concertina européia.

Ouvindo cada um deles, podemos comparar diferentes versões, ao longo do tempo, de soberbas composições, como Adios Nonino, uma homenagem a seu pai, a Trilogia do anjo e Verano Porteño, bem como uma ou duas peças raramente executadas e nunca editadas. Tudo lembra que uma das maiores contribuições de Piazzolla à música do século XX é a criação de narrativas musicais de uma dimensão quase cinematográfica, com base em complexas harmonias, o que provoca uma sensação de continuidade muito depois de seu término: não é de estranhar que músicos e coreógrafos se inspirem em seu legado. Seu tango é uma música poderosa, com seu coração escuro captando um sentido de perda, da percepção de que a vida é incapaz de consumar os sonhos e os desejos, em um nível que é sagrado.

Para baixar os discos, clique em suas capas.

AUDIÇÃO COMENTADA:

Libertango - Astor Piazzolla

Este nuevo tango estabelece seu caráter forte desde o primeiro compasso, com o falecido Piazzolla em seu primeiro bandoneon (a grande e sofisticada versão de concerto argentina da concertina européia). Por meio de rápidos detalhes, os instrumentos estabelecem a atmosfera geral, dentro da qual desenvolvem a principal ideia musical: os complexos acordes são óbvios neste vibrante arranjo de uma obra-prima de Piazzolla.

Veja o mestre em ação: Magnífico!



HAITI

Angels in the Mirror - Vodou Music of Haiti

1 - Legba Nan Bayé-a
2 - Port-au-Prince Drumming Demonstration
3 - Dembala Wedo Vodu
4 - Nago Pa Piti
5 - Mennwat Dance
6 - Se Zèklè Yanyan
7 - Kongo-a Krase Renn Nou
8 - O Bazilo ou Pa Wè No Nan Chen
9 - Djab O
10 - Bonswa Kouzen Bonswa Kouzen O
11 - Bawon Mande
12 - M Pap Mache a Tè Anye
13 - O Non Zauilo Yo Tonbe

São duas as principais manifestações da música popular haitiana: o compas e o vodu. O compas é música de dança, executada por big bands e aparentada ao merengue e outros ritmos caribenhos. Já a música vodu é empregada em rituais religiosos - que é exatamente a manifestação artística enfocada neste CD da Ellipsis Arts.

Sendo música ritual, ela não se presta simplesmente à fruição estética, como acontece com a arte ocidental. A adequada compreensão da música vodu depende do entendimento do contexto em que ela é executada. Para tanto, o disco vem com um libreto de acabamento luxuoso, com muitas fotos e textos sobre o Haiti e a cultura vodu.

Vodu é uma palavra africana, originária de Daomé (atual Benin), significando "espírito". Os escravos africanos que foram para o Haiti na época da colonização levaram para lá sua religião. Defrontaram-se, contudo, com a imposição do catolicismo por parte dos colonizadores (inicialmente espanhóis e, a partir de 1697, franceses). Resultado: para poderem continuar com seus ritos, misturaram-nos às imagens católicas. Qualquer semelhança desta espécie de sincretismo com ritos afro-brasileiros como o candomblé não é mera coincidência.

O Haiti foi a primeira nação negra a se declarar independente, em 1804,após a rebelião popular comandada por Toussaint L'Ouverture. Mas sua história não traz só momentos de liberdade: no século XX, o país ficou famoso pelas sangrentas ditaduras de Papa e Baby Doc Duvalier, que perseguiram o idioma popular do país, o "creole" - uma mistura do francês com vários dialetos africanos. Também na época dos Duvalier, a polícia secreta local, os Tontons Macoutes, contratava sacerdotes vodus para amedrontar seus oponentes, criando, para o mundo, a imagem do vodu como mera manifestação da maligna magia negra.

O disco procura dar uma visão abrangente das manifestações musicais do vodu. O grupo Premye Nimewo toca um "menwat" - a versão haitiana do minueto europeu; Rara La Bel Fraincheur de L'Anglade mostra a tradição de canto-e-resposta, tão característica da música africana; e as possibilidades dos tambores haitianos estão demonstradas ao longo de todo o disco.

Para baixar, clique na capa.

FIM DA SERIE.

domingo, 8 de maio de 2011

Serie "Música do Outro Mundo" - Capítulo 8B: América Latina - Audições, Indicações e Resenhas (Cuba)



Neste último capítulo que me propus com essa serie, vamos ver e ouvir os artistas da nossa região do mundo: a América Latina. Apesar de parecer um tema óbvio e de músicas que deveriam fazer parte de nosso dia-a-dia, é provável que nos surpreendamos com a cultura musical de nosso próprio mundo, uma vez que na maioria, somos influenciados e adotamos a cultura e estética de outrem, entenda-se dos EUA e Inglaterra. Repito aqui o que disse na introdução desta serie: nada contra a música que vem desses dois países, mas nosso mundo musical é muito mais amplo, conforme essa pequena serie demonstrou.

Conheçamos então, as músicas da América Latina!

Observação: Para não tornar o artigo grande demais, dividi este capítulo em 3 partes, a saber: Capítulo 8A - Brasil; Capítulo 8B - Cuba; Capítulo 8C - Argentina e Haiti

CUBA

Contradanzas y Danzones - Rotterdam Conservatory

1 - Las Alturas de Simpson
2 - Los Ojos de Pepa
3 - Ya Está el Café, O Me Voy a la Aplanadora
4 - La Tedezco
5 - Cadete Constitucional
6 - El Pañuelo de Pepa
7 - Almendra
8 - Ayes del Alma
9 - San Pacual Bailón
10 - Yo no Bilo Más Catalina
11 - El Dedo de Landaluce
12 - Riganos from la Grande Duchess Nº1
13 - Riganos from la Grande Duchess Nº2
14 - Riganos from la Grande Duchess Nº4
15 - El Sungambelo
16 - ElEl Bombin de Barreto
17 - Pero Por Qué?
18 - Milicianos en New York
19 - Danza Nº1
20 - Danza Nº3

The Charanga - Rotterdam Conservatory

1 - Bodas de Oro
2 - Lindas Cubanas
3 - Angoa
4 - La Mora
5 - El Barbero de Sevilla
6 - El que más goza
7 - Fefita
8 - El Niche
9 - La Flauta Mágica
10 - Masacre
11 - Reina Isabel
12 - La Engañadora




Inspiradas por músicos de 70 e 80 anos que ainda tocam esta música seminal em Cuba (e que também dançam), estas hoje são as danças (com seu início lento e uma segunda seção mais viva) que abriram o caminho para a música e a dança de bandas modernas, o jazz e a salsa. Antiga tradição oral, as composições dos principais compositores e inovadores foram penosamente reunidas para estes ótimos músicos europeus para que recriassem o incomum ambiente orquestral cubano, que teve início em meados do século XIX.

Os músicos negros, seguindo um modelo europeu importado, primeiro tocavam em orquestras típicas (violinos, contrabaixos, metais e tímpanos de bandas militares), com um extraordinário senso de timbre e ritmo percussivos; em seguida, passaram a tocar nas charangas (flauta, piano, violino, contrabaixo, percussão cubana). Assim, o panorama passou de versões de contradanças francesas para o danzón (literalmente, a grande dança), que mais tarde cederia lugar ao chachachá mambo e, por fim, fora da ilha, ao jazz cubano-estadunidense, influenciando a salsa, numa progressão de tradições que se alimentavam umas das outras.

As Contradanzas y Danzones são bonitas, mas ao se tocar com reverência esta tradição completamente segundo a partitura, por vezes há uma ênfase excessiva na precisão, embora haja momentos em que as coisas deslancham. O bom é que estes discos cobrem um lapso de 150 anos de história. A gravação é brilhante, prestando devido tributo àqueles anos excepcionais.

Veja nos vídeos abaixo belas cenas cubanas ao som de algumas faixas dos discos!




Buena Vista Social Club - Vários

1 - Chan Chan
2 - De Camino a la Vereda
3 - El Quarto de Tula
4 - Pueblo Nuevo
5 - Dos Gardenias
6 - Y tú que hás hecho?
7 - Veinte Años
8 - El Carretero
9 - Candela
10 - Amor de Loca Juventud
11 - Orgullecida
12 - Murmullo
13 - Buena Vista Social Club
14 - La Bayamesa


O guitarrista estadunidense Ry Cooder produziu um álbum que, sem dúvida, receberá muitos e merecidos prêmios (N.R. e recebeu mesmo, este texto é de 1998) graças ao "Quem é quem" dos músicos envolvidos, aos compositores registrados e ao ambiente: o talento e a maneira com que tocam estes homens, em sua maioria com 70 ou 80 anos, são de uma incrível modéstia. A inventividade da música cubana provém da maneira como os músicos atêm-se a uma tradição viva, com raízes locais; ouça como seus instrumentos interagem nas ricas camadas de som por eles produzidas. A extensa descarga (músicos que se tornam solistas, com improvisações ao estilo do jazz), em El cuarto de Tula (Faixa 3), é apenas um exemplo disto, com gloriosos solos de alto (pequeno alaúde cubano de 12 cordas), trompete, timbales e belas intervenções de solos vocais e respostas de evidente conotação sexual!

O piano de Rúben Gonzáles, um músico de 77 anos (N.R. à época), particularmente em Pueblo Nuevo (Faixa 4), com suas improvisações ao trompete fazendo referências a Stormy Weather (N.R standard de jazz muito executado no famoso Cotton Club do Harlen. Interpretada por diversos cantores, entre eles Frank Sinatra, mas quem a consagrou foi Ethel Waters)., mostra por que se gravou, alguns dias depois, um álbum solo de Gonzáles.

Company Segundo, presente em muitos álbuns cubanos, é um músico chave, que inventou o harmônico, um pequeno instrumento híbrido combinando o som metálico essencial do tres cubano com guitarra. Em Y tu, qué has hecho?, a serenata de uma árvore para uma moça que grava suas iniciais em sua casca, é sublime, com Ry Cooder suavemente harmonizando-se com o duo. Em total contraste com a escola de Paul Simon - que trabalha com músicos da world music -, Cooder mantém-se discreta e suavemente no fundo.

No todo, é difícil destacar alguns músicos, pois cada faixa tem seu próprio valor. Ibrahim Ferrer, um cantor de rua, canta boleros, como sua composição De Camino a la Vereda, com uma notável fluidez. Desde o início do CD, com o Chan de Company Segundo, passando pela guajira El Carretero, de Portables, a La Bayamesa, a última faixa, são poucos os pontos fracos.

Veja e ouça abaixo algumas das faixas citadas!


Para baixar, clique na capa do disco!

Vieja Trova Santaguera: Hotel Asturias

1 - Pregon Santinguero
2 - No Sangres Corazón
3 - Un Nemeito Na' Mas
4 - El Peluquero
5 - La Guinda
6 - Yo Soy Gangá
7 - Me Dieron La Clave
8 - Mi Guantanamera
9 - Un Año de Amor
10 - Las Amargas Verdades
11 - Arrimese Usted
12 - Palma Soriano
13 - Zun Zun Paloma
14 - Guarapo, Pimienta y Sal
15 - Guajira Guantanamera

A Vieja Trova Santiguera é um quinteto instrumental clássico (todos também com 70 anos), composto por baquetas, maracas, tres cubanas, violão e baixo. Seu estilo é mais estrito e rítmico, mas a execução não é menos convincente, principalmente quando cantam a duas vozes, com grande clareza, indo dos sons nasais aos mais sonoros - todos caros ao gênero -, sempre em pergunta e resposta. Seu estilo de execução é íntimo, tocando boleros, guarachas e guajiras da parte oriental da ilha. Sua primeiro faixa, Pregón Santiguero, baseia-se em um pregão de rua e é de um brilhantismo típico.


Para baixar, clique na capa do disco!

Família Valera Miranda - Caña Quema

1 - Se Quema La Chumbambá
2 - Pensamiento
3 - Chan Chan
4 - Mi Pañuelo
5 - Las Perlas de tu boca
6 - Caña Quema
7 - Veinte Años
8 - Lagrimas del Alma
9 - Ahora me da pena
10 - Y tu que has hechó?
11 - Pa'los Pinares
12 - Eso no es na'
13 - Venga guano
14 - Longina
15 - Allá va candella

O estilo mais rústico e descontraído do conjunto Familia Valera Miranda (maracas, bongôs, baixo com dois cuartos cubanos como instrumentos de corda), e invoca o Oriente, a parte leste da ilha. Tocando músicas tradicionais como Buena Vista Social Club, além de composições da própria família, o grupo também emprega uma voz feminina solista, como no suave Lagrimas del Alma (Faixa 8).



Para baixar, clique na capa do disco!

Malembe Cubanismo! - Jesús Alemañi

1 - Mulence
2 - Salsa Pilón
3 - Montuno Alegro
4 - El Preguton
5 - Now in Marianao
6 - Danzon Daulena
7 - Cubanismo Llego
8 - Mar y Tierra
9 - Malembe







O som descontraído e íntimo da Família Valera Miranda contrasta vivamente com o reverso da moeda, o excitante Cubanismo!, comandado pelo trompetista Jesús Alemañy. Apesar de seu som de big band mais rico, seu virtuosismo extremos - como no jazz latino e na salsa -, vozes líricas alçam-se acima das camadas de sons produzidos pela percussão, piano, cordas e metais, com o próprio Alemañy brilhando. Jovem músico contemporâneo, formado em conservatório, Alemañy revela-se conhecedor da tradição, movimentando-se pela música cubana com desembaraço, mas com uma abordagem definitivamente nova. Cada faixa é uma grande revelação, como Orlando Valle Maraca'a Mar y Tierra (Faixa 8) e a própria faixa-título, com a música sempre eminentemente dançante.



Domingo que vem, a última parte da serie "Música do Outro Mundo" - até lá!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Música é um prazer, não uma obrigação!

Viva a música!

Nada como sentar com uma pessoa que você gosta e que compartilha de seu gosto (ou que tenha tolerância a ele), com uma bebida e aperitivos (ou não!) e colocar um disco para ouvir com atenção. Para mim, trata-se de um dos maiores prazeres. 

A música é capaz de nos proporcionar ótimos momentos, mas também é capaz de infernizar nossa vida. É sobre isso que quero conversar com você hoje. Já parou para pensar em quantos momentos ouvimos música no nosso dia-a-dia? Agora analise quantas destas músicas você ouviu por opção e quantas por obrigação.

Pois é, sejam muitas ou poucas, o ponto é que somos obrigados a ouvir música e isso é insuportável. Não tanto pela qualidade das músicas (que em geral é péssima, mas não é esse o maior motivo de minha indignação), mas porque é à revelia, é algo imposto. Porque deveria aceitar isso?

Vejamos alguns exemplos:

Música no trânsito:


Carro de som é uma verdadeira praga! O volume é altíssimo, as músicas são lixo (sempre!). Juro que nunca colocarei os pés em uma loja que utiliza esse expediente comercial - é melhor receber spam!

Não devo esquecer aqui dos idiotas que aumentam tanto o volume do rádio de seus automóveis ao ponto de fazer tremer o veículo. Impressionante como o sujeito ainda se sinta o máximo. Talvez ele ache que  ter um som potente ou ouvir aquela determinada música faz dele alguém melhor do que os pobres e infelizes ignorantes que são agraciados com a dádiva de passar ao seu lado. Por alguns minutos somos iluminados com o "maravilhoso" gosto que o sujeito tem, que lástima!

Igreja:

Não sigo religião nenhuma, mas respeito quem segue. Não irei aqui dizer como os religiosos devem professar sua fé e sua devoção. Diferentemente da mensagem da imagem acima, acho que o religioso deve orar e efetuar seus ritos como bem entender, mas por que tenho que ser obrigado a participar deles ouvindo seus berros, urros e escândalos há metros de distância? Por mim podem continuar com suas práticas até estourarem os pulmões e ouvidos, mas o isolamento acústico do prédio deveria ser obrigatório - gastam tanto dinheiro abrindo um templo em cada esquina, não seria tão dispendioso separar uma parte da grana para salvar os ouvidos e a paz da vizinhança. A não ser que sejam tão pretensiosos ao ponto de acharem que o volume com que estabeleçam seus cultos seja na intenção de captar novos fiéis - Deus me livre!

Música Ambiente:


Ah, o escritório... Aquele trabalho que muitas vezes é enfadonho... E para tentar melhorar o ânimo do pessoal, o gerente, um verdadeiro gênio, decide colocar uma musiquinha para o pessoal descontrair. O bendito, que não entende nada de música, pois se entendesse saberia que música se ouve com atenção e dedicação e não como mais um "ruído" do ambiente, sintoniza o rádio em alguma estação popular e a cada quinze minutos os funcionários são agraciados com o último sucesso espetaculaaaaar de "Fura-Tripa & Zóio Torto" e outras pérolas que soam quase sempre da mesma forma - pode reparar: o grupo X faz música igual ao Y, que copiou da dupla Z, uma verdadeira riqueza.

Essa prática é estendida ao supermercado, loja de roupas "descoladas", shoppincenters, metrôs, ônibus, elevadores, consultórios, restaurantes, etc. Como devo ser grato por tantas pessoas e instituições estarem interessadas em me apresentar a música do mundo e me tornar um ser humano melhor! Eu nunca escolho, mas  para que escolher se tudo(?!) vem até mim?

Internet: 

Acho muito legal quando um site ou blog musical que visito tem uma playlist, principalmente se ela tem algo a ver com o conteúdo que estou lendo, nem poderia ser diferente, uma vez que utilizo dessa prática em meus blogs. O problema é quando esta playlist começa a tocar automaticamente. É muito chato!! Mais uma vez é tirada a minha prerrogativa de escolher. As músicas podem ser excelentes (quando são ruins, aí é o fim do mundo!), mas sou eu que devo escolher se e quando vou ouvir. Sou totalmente contra isso, é uma arbitrariedade, a censura de minha opinião e vontade, uma afronta!

Concluindo:

Quando converso sobre isso com algumas pessoas, percebo que muitos não ligam. Essa prática é tão recorrente que já virou costume, e isso é um perigo, pois achamos ser natural uma coisa que não é! Natural é eu ter opinião própria, vontade própria. As pessoas e instituições não têm o direito de me obrigar!

Você pode achar que tudo isso é bobagem, coisa de rabugento. Se esse é seu pensamento, convido você a refletir quantas coisas obrigam você a fazer no seu cotidiano, a música é só a pontinha do iceberg, quanto menos vontade própria nós tivermos melhor para os manipuladores da massa popular. Somos todos servos obedientes conduzidos pela mão no transcorrer do caminho certo (o deles, é claro).

Mas diga lá, em que outros momentos te obrigam a ouvir música contra a sua vontade? Tem algum caso para compartilhar? mande um comentário! 
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um refúgio para quem tem a mente aberta, mas opinião própria"

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