Quadro "The Beach Boys" de Peter Blake |
Bem-vindo caro leitor e cara leitora ao nosso caminho para descobrir se "Esta Música é Arte". No capítulo anterior (para ler, clique AQUI) foram estabelecidos os parâmetros e critérios, e no primeiro artigo da serie, conhecemos sua proposta (para ler clique AQUI). Para facilitar o acompanhamento da serie, criei um menu especial (para ver clique AQUI). Vamos começar? Se você escolheu uma música conforme proposto no artigo anterior, peço que a escute neste momento. Escute tranquilamente, sem grande atenção, apenas se divirta.
NIVEL 1 - O LITERAL
Para acompanhar esse nível é necessário (0 a 10):
- Conhecimento musical: 0
- Conhecimento técnico/teórico: 0
- Atenção à música: 2
- Boa vontade: 5
"Novos mundos precisam ser vividos antes de poderem ser analisados"
Alejo Carpentier - escritor
"[...] Mas a simplicidade nunca é simples."
Agnes Martin - crítica de arte
"Conceber é fácil. Qualquer idiota pode ter uma boa ideia. O difícil é fazer."
Christo Yavashev - pintor
"Não estou interessada em obras grandes. Uma coisa não precisa ser grande para ser boa."
Elizabeth Bishop - escritora
"Não há motivo para que uma obra de arte seja sempre maravilhosa para as pessoas."
Gilbert Proesch - pintor
A base de nossa pirâmide analítica é o campo LITERAL. Aqui não é necessário ouvir a música, basta escutá-la. Por mais estranho que possa parecer essa frase, ela não é contraditória. Quando falo "ouvir", me refiro àquela audição atenta onde os detalhes são notados, por outro lado, "escutar" está no sentido mais simples, ou seja, o literal. Para escutar uma música, basta executá-la, ela tomará conta do ambiente ou será apenas uma parte integrante dele. Nesse momento, basta escutarmos passivamente, em outras palavras, deixarmos a música rolar.
A música é criada em cima de ritmos. Eles podem ser regulares ou não, agitados, calmos ou "cadenciados", não importa, o que importa aqui é que mexem com o corpo. Estimulam uma dança, uma vontade de movimentar o corpo, nem que seja através de um simples bater de pé. Isso pode ocorrer com o "escutador" mesmo ele dando pouca ou nenhuma atenção para a música. Esse é o poder LITERAL.
Praticamente todas as músicas têm esse poder, uma possível exceção talvez seja a música 4'33" de John Cage (que é tão revolucionária que forçou a mudança desse paradigma, para conhecer, CLIQUE AQUI). Portanto, qualquer música analisada avançará para o próximo nível do Teste de Dante, inclusive a que você escolheu - sem nenhum esforço. O que muda de uma música para outra é o GRAU LITERAL que ela tem, e é sobre isso que vamos tratar agora.
AVALIAÇÃO
Apesar de praticamente todas as músicas do mundo possuírem a literalidade, ela é encontrada em graus diferentes em cada uma delas. Se você quer identificá-lo baseado nos parâmetros estabelecidos nos artigos anteriores, deve observar o seguinte:
- Seu gosto pessoal, ou o efeito que a música causa em você pode ser levado em conta, mas não é essencial;
- O gosto geral é importante, ou seja, o sucesso da música É parâmetro aqui;
- O contexto, ou seja, a época em que foi lançada;
- A letra tem pouca ou nenhuma importância.
Veja os efeitos que devemos procurar para altos graus de qualidade literal no vídeo abaixo:
Apesar de ser exagerado por ser tratar de um filme, acho que o exemplo deixa bem claro o que estamos procurando. Repare como a música é recheada de elementos que provocam essas reações nos ouvintes em geral. Independentemente de terem sido introduzidos na música com o objetivo de fazer sucesso ou por simplesmente expressarem as vontades dos compositores, o fato indiscutível é que o resultado foi eficiente.
Note o ritmo contagiante, a expressividade do cantor (tanto John Lennon quanto Ferris Buller), as paradas estratégicas que levam ao clímax, a letra convocando o ouvinte a se agitar (shake,shake), etc, etc. Temos aqui uma fórmula para o sucesso!
Ouça outros exemplos equivalentes em qualidade. É necessário ouvir para melhor compreender, ao menos um trecho de cada faixa. (Surpresa!!!):
Note o ritmo contagiante, a expressividade do cantor (tanto John Lennon quanto Ferris Buller), as paradas estratégicas que levam ao clímax, a letra convocando o ouvinte a se agitar (shake,shake), etc, etc. Temos aqui uma fórmula para o sucesso!
Ouça outros exemplos equivalentes em qualidade. É necessário ouvir para melhor compreender, ao menos um trecho de cada faixa. (Surpresa!!!):
Se você não gosta de algumas das músicas listadas (ou de todas), ok, não há problema, mas uma coisa é necessário reconhecer: elas não são boas, são EXCELENTES, ao menos no sentido literal, e não adianta espernear! Se você é daqueles que afirma com toda a convicção que essas músicas são lixo, está na hora de rever seus conceitos. Elas podem não ter mais nenhuma outra qualidade (ou podem), mas ao menos em um aspecto são EXCEPCIONAIS, goste você ou não delas.
Por mais simples que pareça ser (ou não), a playlist que ouvimos possui resultados EXTREMAMENTE DIFÍCEIS de serem alcançados. Não pense que os "gritinhos", contracantos, pausas e retomadas, riffs, etc. sejam coisas primárias, ao contrário, são cuidadosamente planejados e calculados por músicos e produtores de alto nível (Quincy Jones e Jay Z, para ficar em algumas das faixas da playlist), e tudo isso com o objetivo de alcançar a excelência literal, e por consequência, o sucesso.
Por outro lado, se você adorou a seleção, agora tem uma razão para afirmar para aqueles amigos preconceituosos que eles estão enganados ao tripudiar do que você ouve. Porém, não limite seu mundo musical por aqui, há muito ainda a explorar e outras qualidades a serem observadas.
Entretanto não podemos afirmar de modo algum que encontramos arte, este é só o primeiro nível, restam ainda três. Será que alguma das músicas utilizadas como exemplo ou a que você escolheu, passará do próximo? Veremos domingo que vem, mas outra coisa é certa: se você quer agitar em uma festa, não há tipo de música melhor do que as excelentes literalmente!
Peço a você, que antes de formar um juízo sobre este artigo, dê mais uma lida nas frases dos artistas colocadas no início do texto. Depois de formado, mande-me um comentário!
Abraços!
Nível 1 - O Literal - Quando a música te pega pelo pé (ou pela cabeça, no sentido de balançar o coco)
Até a semana que vem na sequência de nossa investigação!
REFERÊNCIAS:
Esta serie é inspirada no seminário e no texto "Música e Estética 4" do professor Sidney Molina
O "Teste de Dante" foi descoberto pelo professor e filósofo Ricardo Rizek na Epístola XIII atribuída a Dante Alighieri
As frases foram extraídas dos livros "501 Grandes Escritores" e "501 Grandes Artistas", ambos da editora Sextante
Esta serie conta com a supervisão e consultoria da professora de música e musicoterapeuta Flávia B. Nogueira e é escrita na íntegra por mim, Rodrigo Nogueira, professor de música, de história da música e graduando em filosofia.
A reprodução total ou parcial da serie é possível apenas mediante autorização do autor. Para solicitar a autorização, envie um comentário ou um e-mail para rodmanog@gmail.com
3 comentários:
Fantástico, Rodrigo! Não fazia nem ideia de que dava para separar dessa maneira a forma de ouvir uma música. Aguardo os próximos. Abraços!
Valeu Edison! Domingo que vem tem mais!
Olá Carlos! Entendo o que quer dizer e sei que o funk que você se refere não é o de James Brown e cia. Mas cabe lembrar que não vamos aqui dizer que um estilo musical inteiro é arte ou não, mas sim músicas individuais. Entretanto ainda estamos longe de chegar lá, demos hoje apenas o primeiro passo.
Abraços e continuem opinando!
Fala meu irmão!
Estou finalmente de volta, voltei a postar ontem!
abraços!
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