Antes de iniciarmos nossa investigação sobre que músicas podem ser consideradas arte, é fundamental que estabeleçamos alguns parâmetros que nos servirão de referências para o processo. Poderíamos optar por vários caminhos e todos eles seriam discutíveis, mas é necessário estabelecer um para percorrermos, senão, permaneceremos estáticos e sem direção.
O primeiro, na verdade, é o ponto final de nossa busca, o que esperamos encontrar: O QUE É ARTE.
ARTE
J. J. Rousseau |
O conceito primário de arte nos remete a origem do termo, que é artefato. A grosso modo, artefato é tudo o que é realizado pelo homem que não é feito puramente por natureza, ou seja, por instinto. Segundo o filósofo Jean Jaques Rousseau, as únicas coisas que o ser humano faz apenas por natureza é se alimentar - comer e beber -, descansar e sexo. Qualquer coisa além disso é artefato, artifício; em outras palavras: ARTE. Desse ponto de vista todos nós somos artistas, e arte por princípio, não é algo natural.
Porém, há um conceito que é mais restrito. Ele parte da ideia genérica que são as realizações humanas, mas são julgados como arte apenas quando atingem o grau de EXCELÊNCIA. Essa excelência não é medida entre o artista e ele mesmo, mas sim entre a realização do artista e a da espécie humana como um todo. Em outras palavras, não é a minha excelência que está em jogo, mas a excelência humana enquanto espécie.
Um exemplo: por mais que eu, indivíduo Rodrigo, me esforce para criar alguma coisa e chegue ao máximo de minhas capacidades, isso não significará que criei arte, pois o parâmetro não sou eu. Apenas será arte se a minha criação estiver em um grau de excelência se for comparada com a capacidade da humanidade como um todo, então pouco importa se me esforcei ou atingi o meu máximo. Portanto, desse ponto de vista, poucos de nós somos artistas e a arte é algo EXCEPCIONAL. É isso que buscaremos em nossas análises.
MÚSICA COMO ARTE
Como escrevi na introdução desta serie (leia aqui!), a música como um todo É arte, e a explicação para isso foi dada acima, ou seja, é uma realização humana não proveniente de sua natureza. Mas uma música em particular pode ou não ser, isso vai depender do seu grau de excelência frente à capacidade da espécie humana de produzir música, de sua excepcionalidade. Assim podemos perceber que esta excepcionalidade está diretamente ligada à HISTÓRIA e PROGRESSOS humanos. Desse modo, a música analisada deverá ser inserida nestes contextos, o que fará com que uma música "antiga", mesmo nitidamente ultrapassada hoje, não perderá seu valor artístico se, na época de sua criação atingira a excepcionalidade. Estabelecemos assim nosso "pano de fundo".
Para não deixarmos a análise apenas no subjetivismo individual de quem a faz, cabe agora inserirmos quais as características e critérios serão observados na obra musical para atribuir-lhe o status de arte, o MÉTODO. O escolhido foi o "Teste de Dante" (já falei dele na introdução da serie).
Para Dante, há quatro características a serem investigadas, as quais chamarei de NÍVEIS. A música deverá passar por todos os níveis e a excelência será relevante para a classificação artística nos terceiro e quarto níveis, mas o primeiro e segundo também deverão ser satisfeitos, embora a excelência não seja exigida, pois se for, não chegaremos simplesmente à arte, mas à PERFEIÇÃO e não creio que isso seja provável.
1º Nível - LITERAL
2º Nível - MORAL
3º Nível - ANALÓGICO
4º Nível - ANAGÓGICO
Em diagrama fica assim:
Teste de Dante |
VAMOS FAZER JUNTOS?
Para deixar nossa investigação mais interessante, que tal aplicarmos na prática? Tenho uma proposta a fazer caro leitor: escolha uma música. Fique a vontade, escolha a que quiser, apenas procure alguma que por instinto você acredita ser arte. Você tem uma semana, escolha bem, vamos submetê-la ao Teste de Dante! Se quiser, você pode escrever seus progressos e observações nos comentários! Todos nós que amamos música temos a tendência a julgá-las, isso é normal. Tentemos fazer isso agora de uma forma quase científica. Acho que vai ser divertido! Está comigo?
OBSERVAÇÕES FINAIS
Repito aqui que o objetivo não é mudar gostos, embora isso possa ocorrer; vamos trabalhar sobre os preconceitos. Vou afrontar todos os seus preconceitos musicais, até aqueles que você nem sabe que tem serão aflorados. Mas mantenha-se firme! Antes de concordar ou discordar, reflita sobre o que foi escrito. Pode opinar e criticar, use os comentários, vamos trocar ideias!
Aguardo você domingo que vem quando iremos começar a desfazer os mitos e crendices do senso comum. O debate está aberto: afinal, ESTA MÚSICA É ARTE?
Abraços,
Rodrigo Nogueira
Para montar esta serie de artigos, contei com a participação valiosa da professora de música e musicoterapeuta (além de minha esposa) Flávia B. Nogueira, que escreve regularmente no blog Música & Saúde
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