Então você está querendo aprender violão clássico, mas não sabe muito bem por onde começar?
A maioria das pessoas têm um violão em casa. Seja o instrumento emprestado que as crianças trouxeram da escola, ou a antiga relíquia que papai guarda como lembrança dos dias em que tocava o instrumento, é provável que haja, em algum ponto de sua vida, uma coisa com braço, caixa e um conjunto de cordas. Contudo, também é possível que, mesmo que você tenha acesso a esse instrumento, nunca lhe tenha sobrado tempo para levá-lo a sério.
Há apenas 30 anos era difícil achar um aluno de violão com qualidades, quanto mais um professor experiente e competente. Felizmente, nos últimos anos vem ocorrendo uma revolução no ensino do violão, com instrumentos de qualidade produzidos em série, um grande número de escolas e métodos, e, por fim, a oportunidade de o aluno entrar em contato com um professor “qualificado” de violão clássico.
Que instrumento comprar para começar?
Como seu primeiro violão, você não precisa necessariamente de um instrumento de concerto feito a mão que você sequer ousaria tirar do estojo para limpar. Por outro lado, de pouco adianta comprar um instrumento barato e mal feito do qual nem o maior violonista conseguiria tirar um som bonito. Os violões são baratos se comparados com a maioria os instrumentos da orquestra – os modelos para aluno vão de R$ 150,00 a R$ 350,00. Existem até violões especiais para os mais jovens, disponíveis em metade e três quartos do tamanho normal.
O principal fator na hora da escolha, tanto em termos de preço quanto de qualidade sonora, é a construção do tampo (veja imagem acima). O tampo é feito de uma madeira macia e laminada, normalmente espruce ou cedro, nos violões mais baratos. Os tampos de madeira laminada não apresentam bom timbre e projeção, o que, por outro lado, significa que seus pobres dedos terão que trabalhar com mais empenho; portanto, escolha um violão de tampo sólido – cujo preço parte de, mais ou menos R$ 300,00. Além disso, para que o violão seja “tocável”, ele deve apresentar a “ação” correta, ou seja, a distância entre as cordas do braço. Se ela for muito pequena, as cordas podem zumbir e bater contra os trastes (veja figura acima) – se ela for grande, será difícil ou impossível produzir as notas de maneira precisa.
Embora a maioria das lojas de instrumentos musicais vendam violões, é mais aconselhável procurar uma loja especializada, onde você poderá encontrar instrumentos importados e “autênticos”. Se você for passar férias na Espanha, aproveite a ocasião, pois nesse país os violões são incrivelmente baratos, e existem luthiers (fabricantes de instrumento) e lojas em toda a região da Andaluzia, que inclui locais turísticos como Torremolinos, Málaga e Marbella. Por fim, onde quer que você adquira seu instrumento, experimente levar com você um violonista ou um professor experiente.
Descobrindo um professor
É sempre difícil decidir que professor é o mais adequado às necessidades e capacidades do aluno. Com isto em mente, não assuma compromisso de assistir a um curso completo sem antes ter tido algumas particulares com diferentes professores. E cuidado com os que prometem mundos e fundos por um preço módico.
Obtendo um diploma
Depois de ter tocado suas primeiras peças, é possível que você queira fazer um curso de violão clássico num conservatório ou numa faculdade de música. As opções estão começando a se diversificar pelo país afora.
A maioria do repertório para o aluno de violão clássico foi escrito no século XIX; assim, você vai encontrar nomes como Carcassi, Giuliani e Scor em quase todos os métodos publicados. Em níveis mais adiantados, transcrissões mais ambiciosas de obras já existentes também aparecem (p. ex., as peças para alaúde de Dowland e de J. S. Bach)
Estátua de Bach em Leipzig, Alemanha
A prática traz o prazer
Como acontece com qualquer outro instrumento, você vai precisar trabalhar muito antes de conseguir ouvir alguma coisa que seja musicalmente inspiradora. Mas se você estudar o tempo necessário, esforçando-se ao máximo, os resultados valerão a pena. Ou, pelo menos, é o que achava Andre Segovia, que certa vez assim descreveu o violão: “… o mais imprevisível e o menos confiável dos instrumentos musicais que existem, e também o mais doce, o mais quente, o mais delicados devaneios em nossa alma”. Tenha sempre isto em mente, mas não vá exigir demais de sua primeira lição…
Texto: Joe Bennett – é professor de violão e
editor da revista inglesa Total Guitar
Andres Segovia, um dos maiores de todos os tempos
Onde Estudar
Que tal um lista em que a satisfação é garantida?
- Escola de Música e Belas Artes – Curitiba (PR)
- Escola de Música do Espírito Santo – Vitória (ES)
- Conservatório JKO – Pouso Alegre (MG)
- Universidade do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro (RJ)
- Conservatório Brasileiro de Música – Rio de Janeiro (RJ)
- Escola de Música Villa-Lobos (RJ)
- Escola de Música e Cia da Cordas – São Paulo (SP)
- Universidade de São Paulo – São Paulo (SP)
- Faculdade Carlos Gomes – São Paulo (SP)
- Instituto de Artes da Unesp – São Paulo (SP)
- Faculdade Santa Marcelina – São Paulo (SP)
- Conservatório Dr. Carlos de Campos – Tatuí (SP)
APROFUNDE SEU CONHECIMENTO!
Seis grandes violonistas
Francisco Tárrega (1852 –1909) – O primeiro grande mestre do moderno instrumento de seis cordas. Foi o pioneiro do “recital” de violão, tocando dezenas de peças escritas de sua própria autoria.
Andres Segovia (1893 – 1987) – Gênio espanhol autodidata que impôs o violão como instrumento “sério”, atraindo para ele total atenção popular. Estilo intimista, sutil e introspectivo. Encomendou muitas obras novas em seus 77 anos de carreira.
Julian Bream (1933) – Depois de Segovia, provavelmente o mais importante violonista deste século. Virtuose brilhante, com interpretações profundamente artísticas. Grande incentivador de novas peças.
John Williams (1942) – Nascido na Austrália, espécie de aluno de Segovia e ativo na moderna tradição virtuosista estabelecida por Bream. Um inovador da fusão de diversos estilos de música. (confira uma música interpretada por ele mais abaixo no post)
Carlos Bonnell (1949) – Foi o mais jovem professor do Royal College of Music, a partir de 1972.
Slava Grigoryan (1976) – Um dos muitos jovens pretendentes ao trono das seis cordas. Põe em evidência um temperamento ardente e uma técnica formidável.
Seis grandes obras
Canciones populares – Segovia – Ele compôs pouca música, mas estas 16 peças curtas, baseadas em canções folclóricas, são deliciosas.
12 Estudos – Villa-Lobos – Juliam Bream chamou estas peças inovadoras, escritas em 1929, de “o equivalente, para violão, dos Estudos para piano de Chopin.
Concerto de Aranjuez – Joaquim Rodrigo – De longe, a mais conhecida composição já escrita para o violão clássico.
Nocturnal – Benjamin Britten – Escritas em 1963, estas meditações sobre o sono e a noite, a partir de um tema de John Dowland.
Cinco Bagatelles – Walton – Walton completou-as em 1971, quando tinha 69 anos, mas elas cintilam com energia e inventividade.
Royal Winter Music – Henze – Uma sonata meditativa, em seis movimentos, escrita em 1976, com base em personagens de Shakespeare.
Audições e Análises
Concerto para guitarra e orquestra em D maior, Allegro – Antonio Vivaldi – Guitarra: Boris Björn
O violão é conhecido como guitarra na maioria dos países. O que para nós é chamado guitarra, para eles é a guitarra elétrica.
O alaúde mouro foi a base para a evolução do violão e na época de Vivaldi (e desta peça), havia um instrumento que significava a transição de um para outro.
Confira o andamento final desta bela peça.
Stélé, segundo movimento – Philip Houghton – Violão: John Williams
“Stélé”, explica John Williams “são estrelas ou momentos da Grécia antiga”, cujas imagens são usadas pelo compositor australiano Philip Houghton como um estímulo para se evocarem “impressões e memórias do passado”. O segundo movimento é particularmente difícil de tocar. Ouça, em especial, as seguintes características da interpretação de Williams: 00:00 – A série de “crescendos” tensos e em golpes secos com que a música se inicia. 00:15 – Um floreio das cordas bem no alto do braço.
00:17, 00:52 – Figurações insistentes e de notas repetidas que atribuem ao movimento sua característica de “perpetuum mobile”.
01:26 – Três intervenções de notas únicas e tocadas de maneira brusca intensificam a tensão à medida que a peça avança para seu fim.
Prelúdio Nº 1 em E menor – Heitor Villa-Lobos – Violão: Fábio Zanon
Com os cinco prelúdios (1940) Villa-Lobos retoma sua obra violonística pontuando uma estética mais conservadora em relação ao trabalho anterior, os 12 Estudos (1929). Este foi o período em que o compositor estava envolvido, entre outras obras, na criação do ciclo das Bachianas Brasileiras, e frente ao grande projeto de educação musical do governo Vargas, envolto em uma grande euforia patriótica durante o período da 2ª Grande Guerra. Esta visão ufanista do compositor se reflete nos Prelúdios através de tributos prestados aos povos simples da cidade (Prelúdios Nº 2 e 5), do campo (Prelúdio Nº 1) e da floresta (Prelúdio Nº 4). A presença de Bach como elemento central e universal da criação, fonte de inspiração e idolatria, pode ser percebido no Prelúdio Nº 3, que possui um melodismo fácil e atraente. Deve ser salientado que Villa-Lobos foi um mestre das pequenas formas e um profundo conhecedor do violão, instrumento que executava com fluência.
O prelúdio Nº 1 em E menor, construído em uma forma ternária simples é, segundo o compositor, uma homenagem ao sertanejo brasileiro.
00:00 – A primeira parte do prelúdio é toda desenvolvida nos bordões do instrumento, lembrando um violoncelo. Ele apresenta uma melodia de caráter grave e apaixonado que é exposta três vezes, retomada sempre com maior intensidade, chegando a explorar a região mais aguda da quarta corda.
01:10 – Após o ápice de uma progressão de notas apresenta-se um novo elemento melódico, desenvolvido simetricamente e concluindo esta primeira parte.
01:37 – Na segunda parte do prelúdio uma rápida mudança de atmosfera é logo percebida por uma passagem arpejada para a região aguda. A presença luminosa da tonalidade E maior, a forte trama rítmica e a troca súbita de andamento nos remete aos ponteios dos violeiros sertanejos.
02:45 – Segue-se a reapresentação integral da parte inicial, concluindo a obra com a nota Mi, a mais grave do instrumento.
Fontes: Várias edições da revista Classic CD
A inspiração para este post veio do meu pai, que está querendo estudar violão e me fez uma série de perguntas sobre isso. Sem contar as semanas que levamos para encontrar um instrumento e acessórios adequados. Espero que sirva de ajuda aos amigos leitores!
‘té mais!
18 comentários:
PUTSSS!! ÒTIMO post! muito bom mesmo... vai exclarecer muito para quem está começando...
Eu toco o violão clássico(e pretendo fazer faculdade de música) e fico admirado ao ver o teu artigo, sem duvida o melhor artigo de violões para inciiantes, parabéns e continue assim!!!
P.S: nos melhores violonistas, faltou o mestre Paco de Lucia!
..boas as dicas, mas não ajudou no objetivo principal, qual violão devo comprar(?), continuo preso a sede de venda das lojas e do que é melhor para ela(tem no estoque), podia dar dicas de marcas e modelos, mais baratos e mais caros.. afinal, quem chegou aqui nesse post é iniciante e veio atras de dicas, caramba!!
fernando
Obrigado Luxis, espero ter ajudado o pessoal com este post!
Abç!
Boa sorte com a faculdade Antony e obrigado pelos elogios.
Quanto ao sr. de Lucia, concordo q seja um dos melhores violonistas. Não o citei pq minha lista não é dos "melhores violonistas de todos os tempos", é apenas uma relação de 6 grandes violonistas.
Abç!!
Fernando, entendo sua bronca. O problema é o seguinte: é muito difícil dar uma resposta direta, tipo "compre esta marca e modelo que custa tanto..." É difícil pq não sei qual seu objetivo. Existem diversos tipos de violões q são adequados a diferentes estilos. Então sugeri q seja observado no violão seu material de fabrico, q vc vá numa loja especializada em violões e finalmente, q vá acompanhado de um violonista ou, preferencialmente, de seu professor, desse modo os vendedores "pilantras" não vão conseguir passar-lhe a perna e vc sairá de lá com um instrumento adequado ao seu objetivo e ao estilo q vc vai estudar.
Abç!!
muito bom post pra quem vai iniciar sua vida musical nas cordas de um violão
parabens
eu concordo com o fernando , poderia dar mais dicas sobre como comprar seu primeiro violao mas tb entendo seu ponto de vista na resposta
Obrigado Gerardo!
Ainda sobre a compra do instrumento: procurei passar informações q servem para todos, no caso da dúvida do Fernando, há de ser feito um estudo específico do caso dele para q se possa escolher um instrumento adequado especificamente para ele, ou seja, uma consultoria.
De qualquer modo, é uma boa ideia fazer um post futuramente especificamente sobre o tema e tratar das diversas possibilidades e objetivos.
Valeu!
Muito bom seu post!
Quer uma dica ?
Publicar suas Nóticias / matérias e contéudos de um jeitinho novo
ACESSE SOCIETY!
www.funcast.com.br/society
e publique!
Bem no stylo DIHITT!
Abração Equipe do Funcast!
é Sucesso para você!
Ok, Lang, valeu a dica!
òtima postagem ! Fico feliz pelas sugestões e o tema abordado.
Muito obrigado!
Não esqueça de dar uma passadinha por aqui qdo tiver um tempinho.
Abç!
Excelente o post!! Muito bom mesmo! Quanto à minha humilde opinião, não sei se será de muita valia, já que dou aulas de violão popular e todo o texto é voltado ao violão erudito, mas acredito que foi escrito o necessário para uma boa iniciação musical nesta área, e que muita coisa serve ao violão popular tb. Uma curiosidade é a foto do Luthier Barros de Volta Redonda, pois tem alunos meus que são clientes dele. Excelente Luthier! Sucesso com o Blog e estarei visitando mais vezes!!!
Muito obrigado professor Pinheiro!
Está dado o crédito para o luthier Barros que utilizei como exemplo (espero que ele não se incomode de eu ter usado sua foto...).
Apareça mesmo!! Sua visita será sempre apreciada!
Abç!!
Bravo! O post foi perfeito para os desejosos de adentrar no aprendizado do violão erudito. A única ressalva que faria seria adicionar a obra "La Catedral" de Agustín Barrios nas "grandes obras", - que em minha humilde opinião, é a mais bela obra já composta para o violão clássico.
p.s.: Se bem que "Choro da Saudade" e "Un Sueño en la Floresta" também não fariam feio.
Obrigado pelas palavras e pelas sugestões musicais!
Abç!!
Oi Rodrigo! Muito obrigada pelo link! Li a sua postagem e amei! Me empolgou mais ainda! Obrigada pelo comentário também e apareça sempre!
Abraço e muito rock'n roll pra vc!
Que bom que gostou Gabriela! Apareça sempre que quiser!
Abração!
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