(parabéns Antônio do Vale pela bela foto)
Quando um pastor (de ovelhas mesmo), em tempos remotos teve a ideia de atar uma série de tubos de madeira, que produziam diferentes notas, colocava os alicerces de um instrumento musical maior e mais complexo que o mundo já conheceu. A seguinte etapa lógica foi colocar as “sanfonas” sobre uma caixa de ar, fazendo-as soprar com um fole e acrescentar depois um teclado. A meados do séc. X o famoso órgão de Winchester presumia possuir 400 tubos, requeria 70 pessoas para acionar os foles e dois músicos para tocá-lo. Naquela época os órgãos careciam de teclados, estes foram inventados e acrescentados durante o século posterior.
Além da sonoridade imponente, o órgão também possui (em geral), sua fachada adornada de forma esplêndida. Sua estrutura lógica e de funcionamento foi definida completamente em 1600. Nos 200 anos posteriores, ele aumentou de tamanho e passou a ser formado por dois, três e até quatro teclados; cada qual controlava o seu próprio “coro” de registros, e a um jogo de pedais acrescentava-se uma série de vozes de baixo.
A era industrial conduziu a uma nova fase de progressos. Foram construídos órgãos maiores, com pressão de ventos mais altas. Teclados de ação pneumática e elétrica substituem o delicado sistema de “tornante” com suas varetas e alavancas, embora se construam órgãos, utilizando-se este método.
Um órgão pequeno pode ter somente um conjunto de tubos ou registros. Quando se acrescentam mais registros, desenvolvem-se corpos sonoros, não somente do jogo de tubos graduados em uníssono (registros de 8 pés, 2,40m), como também de outros que soam uma oitava abaixo. Em órgãos muito grandes com pedais e tubos de 32 pés, 9,70m, proporcionam uma profundiade de sons majestosos. Cada corpo sonoro terá algumas fileiras de afinação aguda, que não somente fazem soar as oitavas mais altas, como também os sons harmônicas superiores, acrescentando ademais, riqueza e brilhantismo. Outros terão o suave timbre de uma flauta, sons delicados e contemplativos ou lamentosos efeitos de oboé. Um órgão grande possui tubos de variadas formas, sendo mais numerosos os diapasões que integram os corpos sonoros, cujos baixos, apresentam os conhecidos tubos frontais, que se pode observar sobre a caixa. Outros tubos podem ser afunilados ou com um corte quadrado, oval ou triangular, cada qual com seu tom característico. Os tubos podem ser fechados ou abertos e feitos de madeira ou de diferentes ligas de estanho ou chumbo. Um órgão de uma catedral pode ter até 5000 tubos e um ou mais teclados.
Estes instrumentos são ideais para a música pura de Bach. Com o domínio universal da música orquestrada e graças às gravações, o órgão vem recuperando o seu próprio espaço, como o rei dos instrumentos.
Funcionamento
Ao pressionar a tecla, a vareta levanta o someiro fazendo descer a vareta com seu cabo trançado e botão de ajuste. As varetas de redução são utilizadas para harmonizar as posições da tecla, com a nota correta na caixa de ar. Outras varetas estão conectadas ao tampo do interior da caixa; estas cobrem uma abertura de acesso aos tubos que correpondem aos quatro registros.
Ao acionar-se o botão de um registro, os da corredeira coincidem com os que ficam do lado dos tubos. Ao soltar a tecla, uma mola faz regressar o tampo à sua posição original.
Audições e Análises
Toccata e Fuga em D menor BWV 565 – Johann Sebastian Bach
Talvez a mais famosa peça para órgão, a Toccata e fuga em D menor, também conhecida como “O Fantasma da Ópera”, mostra toda a imponência desse instrumento e o gênio criativo de seu compositor: Johan Sebastian Bach.
Sinfonia Paixão, OP. 23 – Mov. Final, “Ressurreição” (trecho) – Marcel Dupré
A Symphonie-Passion de Dupré surgiu de uma improvisação; Dupré estava fazendo uma série de recitais nos EUA quando, em Filadélfia, foram-lhe oferecidos quatro temas litúrgicos para que improvisasse sobre eles. Ele decidiu fazer deles a base para uma sinfonia para órgão representando a vida de Cristo. Peça desculpas aos vizinhos e aumente o volume o mais que puder! Nosso excerto começa na metade do último movimento da Symphonie-Passion, que também é chamada de “Ressurreição”. Este movimento leva a obra a uma triunfal conclusão, não muito distante do estilo da Toccata da Quinta Sinfonia para órgão de Widor (Dupré foi aluno de Widor e sucedeu-o como organista de St. Suplice, em Paris). 00:00 – Depois de uma pausa que se segue a uma música de tranquila anteciação, o organista apresenta um tema semelhante a uma agitada toccata, sob o qual (00:11) os pedais profundos e resmungões executam a melodia do hino Adora Te Devote (“A ti adoramos”, do Hinário Anglicano). Ela se ergue nos teclados (00:32), sombreada pelos pedais. Em 01:05, a melodia reaparece de forma mais completa, e, a partir de 01:34, maciços acordes em staccato e descendentes levam à arrebatada conclusão. A gravadora teve que cortar a incrível reverberação da catedral de São Paulo.
Concerto para Órgão – 4º Mov. Final, “Très calme, Lent”, “Tempo introduction, Largo, Início (trecho) – Francis Poulenc
00:00 – Aproximamo-nos do concerto quando já se vão três quartos da sua duração, com um dramático floreio no órgãos, como um pós-ecodo gesto à la Bach com que a peça se iniciou, uma afirmação das sérias intenções religiosas de seu “programa”.
00:15 – Com uma grotesca e deliberadamente desorientada justaposição, um tema aparentemente frívolo de “ambiente de feira” arremessa-se rumo ao divertissement e aos bulevares. Sua atmosfera ostensivamente descuidada e alegre é aos poucos assolada pela instabilidade no quadro harmônico, uma demonstração de como os sintilantes atrativos da vida social urbana não podem mais ser aproveitados pelo compositor de forma direta e descomplicada.
01:47 – Os timbales entram, reforçando o sentimento de desconforto.
01:51 – A crise culmina em um imponente pedal do órgão, a agitação e a apreensão enfatizadas (02:02).
02:14 – O solene e majestoso motivo bachiano do início do concerto reaparece, terminando abruptamente com a perigosa e intoxicante mistura de frivolidade e confusão que se passa anteriormente.
02:30 – O órgão solo, repentinemente meditativo e apaziguado, introduz a seção final do concerto, Largo, que é seu coração espiritual e religioso.
Fontes de pesquisa: Coleção Os Grandes Mestres da Música Clássica e revistas Classic CD.
té mais!
6 comentários:
Espectacular! Este é um instrumento musical por excelência e tão pouco divulgado. Gostei muito de saber um pouco mais sobre o órgão.
Ouvi um pouco do "Fantasma da ópera", excelente!
Grande abraço
Luísa
É o meu instrumento favorito! Tanto que tenho centenas de gravações de J.S. Bach e estudo piano para, quem sabe, um dia estudar o Rei dos Instrumentos.
Que seu Natal seja repleto das bençãos de Deus.
beijos
Muito obrigado Dri. Pra vc tb!
Bj
Obrigado Luíza, por sua presença constante e apoio!
Eu toco este maravilhoso instrumento desde os 9 anos, hj tenho 45, acho ele fantástico!!
CD.´.
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