Uma pequena reflexão filosófica sobre os primeiros 2 parágrafos do Discurso da Metafísica de G. W. Leibniz.
Segundo o filósofo G. W. Leibniz (1646 - 1716), existem vários níveis de perfeições, e não apenas uma perfeição. Entretanto só quem personifica a perfeição máxima, ou seja, em seu mais alto grau, é Deus - o ser absoluto e perfeito.
Até aí, nada muito novo, só que o que Leibniz trás para a reflexão são as consequências disso.
Se Deus é a perfeição máxima e absoluta, por consequência, Ele é a reunião de todas as perfeições existentes. Só que para essas perfeições serem Deus, elas estarão em seu grau máximo.
Antes de esclarecer esse conceito, é importante entender o que é perfeição (segundo Leibniz) - formas ou naturezas impossíveis de atingir o maior grau (o final) certamente não são, como por exemplo, o número e a forma (entidades), afinal quais seriam seus elementos máximos? Números e formas, por mais elevados que se possa conceber, sempre será possível postular um ainda maior! - Isso gera uma contradição, e esse caráter os torna imperfeitos;
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Qual é o maior número?? |
"Já a máxima ciência e onipotência não encerram qualquer impossibilidade. Por conseguinte, o poder e a ciência são perfeições, e enquanto pertencem a Deus não têm limites".
Apesar de parecer também contraditórios os exemplos de perfeição, uma reflexão mais profunda deixará clara a diferença. Veja, tanto o conhecimento quanto o poder têm um grau máximo a partir do ponto em que se atinge suas totalidades. Portanto, se se sabe tudo e se pode tudo, seu conhecimento e poder são infinitos e nada mais há a saber e a fazer, foi atingido o grau máximo = Deus.
Para deixar mais claro: a ciência (conhecimento) e o poder não são perfeitos apenas quando em seu grau máximo, mas por existir um grau máximo, que só é atingido por Deus. Nós humanos temos também a perfeição da ciência e do poder, só que em graus menores.
Para deixar mais claro: a ciência (conhecimento) e o poder não são perfeitos apenas quando em seu grau máximo, mas por existir um grau máximo, que só é atingido por Deus. Nós humanos temos também a perfeição da ciência e do poder, só que em graus menores.
Embora Leibniz não apresente as coisas exatamente dessa forma, conhecimento e poder sem limites, permitem (impõem) suas aplicações da melhor forma, ou seja, com sabedoria - tanto metafísica quanto moralmente falando; então:
"Quanto mais estivermos esclarecidos e informados sobre as obras de Deus, tanto mais dispostos estaremos a achá-las excelentes e inteiramente satisfatórias em tudo que possamos almejar".Graças a essa última conclusão, Leibniz discorda das correntes de pensamentos:
Importante: para Leibniz a Natureza é obra de Deus e não o próprio Deus.
- Não há regras de bondade e de perfeição na natureza - o último argumento exposto derruba esta tese;
- Se Deus fez, é bom - Leibniz discorda dessa forma passiva e simplória -, pois se Deus fosse um tirano e nos fizesse o mal, encararíamos como um bem por ser um feito Seu. Ele faz o bem devido à Sua suprema sabedoria "é preciso que Suas obras tragam em si o caráter de Deus" (perfeição máxima, portanto o melhor);
- A beleza do universo e a bondade atribuída por nós às obras de Deus, não passam de conceitos humanos sobre um Deus concebido a nossa própria maneira (humana) - (partindo de que Deus exista) que sentido haveria então para louvá-lo e adorá-lo se as coisas assim fossem?
"(...) parece que toda a vontade supõe alguma razão de querer, razão esta naturalmente anterior à vontade. (...) A mim, pelo contrário, me parece tão-somente consequências de Seu entendimento, o qual seguramente em nada depende da Sua vontade, assim como Sua essência também dela não depende".
Aqui o conceito (que eu acho) o mais controverso: Para Leibniz parece que Deus faz o bem (perfeito) porque é obrigado a isso (auto-imposto), por ser de Sua natureza suprema, e ele não poderia se voltar contra ela... Uma espécie de paradoxo.(será que é por isso que Ele teria criado o demônio?)
Claro que essa é só a ideia inicial, tem um livro inteiro para defender estas teses. Aguarde as continuações!
Texto e interpretação: Rodrigo Nogueira
Fonte: LEIBNIZ, G. W., Discurso da Metafísica, Parágrafos 1 e 2 - Editora Martins Fontes.
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