Para a boa compreensão deste artigo, é imprescindível a leitura prévia dos artigos anteriores, caso ainda não tenha lido, utilize os links abaixo:
- A Formação do Gosto Musical - Introdução
- A Formação do Gosto Musical - Parte 2: Os Primeiros Padrões Musicais
- A Formação do Gosto Musical - Parte 3: A Estrutura Básica da Música
- A Formação do Gosto Musical - Parte 4: Os 4 Maiores Agentes Formadores do Gosto - 1º Costume
- A Formação do Gosto Musical - Parte 5: Os 4 Maiores Agentes Formadores do Gosto - 2º Associação
Nos artigos anteriores, entre outras coisas, observamos que a formação do gosto musical inicia seu processo no ser humano quando ele ainda se encontra no útero de sua mãe; definimos que o gosto musical são padrões cerebrais consolidados e que, sempre que ouvimos uma música inédita, nosso cérebro procura por similaridades e, se não as encontra, a tendência é que o indivíduo a rejeite, a não ser que um dos quatro grandes formadores do gosto atuem. A atuação desses fatores pode ser individual, mas o mais comum é que atuem simultaneamente, em sequência ou de forma cíclica. Até aqui, já abordei dois deles: o Costume/Repetição e a Associação; hoje tratarei do terceiro, aquele que passa a ter atuação seletiva a partir da idade em que já podemos emitir julgamentos de forma consciente ou inconscientemente, e que a partir desta época, costuma ser o primeiro grande fator formador do gosto a exercer influência. Para facilitar nosso estudo, resolvi chama-lo de Disposição.
A Disposição Consciente
É muito comum, principalmente quando ainda somos jovens, a tal da "busca de identidade" para que tentemos alguma integração. Como essa busca está intimamente ligada a questões sócio-culturais, fatalmente a música se torna parte integrante dela. Outras questões relevantes a serem consideradas nessa busca, é a personalidade que este indivíduo já tem ou a que ele gostaria de ter. Diante disso, a pessoa terá disposição para gostar de certas músicas para ser parte integrante de um grupo social ou para corresponder às suas expectativas emocionais.
Um exemplo: para estar "por dentro", o indivíduo tem disposição de gostar das músicas que estão na moda. Se estas músicas, por acaso ainda não encontrarem padrões cerebrais, eles poderão ser criados a partir do auxílio de outros fatores formadores do gosto, como o Costume/Repetição por exemplo.
Se a pessoa tem personalidade (contrariando Jung, para mim não existe "personalidade forte", ou se tem ou não) e uma boa base cultural, ela dificilmente será manipulada por modismos ou outros fatores externos, ela terá disposição por si ou por convencimento através de bons argumentos.
A Disposição Inconsciente
Músicas que fogem dos padrões do indivíduo e as com alto grau de complexidade (o quão alto, é relativo ao nível cultural de cada um), normalmente não terão a sua disposição inconsciente, ou seja, você provavelmente não irá gostar na primeira ouvida, pois ela tenderá a ser irritante ou enfadonha. Entretanto, se a música satisfizer essas condições iniciais (fizer parte de seus padrões e/ou cultura) e não ativarem os seus preconceitos, ela encontrará sua disposição automática.
Observação importante!! - ao citar o "nível cultural" de modo algum me refiro a burrice, mas à falta de acesso. No contexto, o conceito que atribuo é que quanto maior a cultura musical da pessoa, maior o repertório de padrões cerebrais e portanto maior chance de as "novidades" serem encaixadas nestes padrões, o que aumentaria muito a Disposição em comparação com indivíduos com menos padrões.
A Falta de Disposição
Pessoas com baixo nível cultural têm a tendência a se fechar à maioria das músicas, pois para elas quase tudo é novidade; e quando esse baixo nível cultural é associado a algum preconceito, o fator Disposição fica totalmente impedido de agir e dificulta grandemente a ação inclusive dos outros grandes fatores formadores do gosto, criando uma intransponível barreira.
Outra coisa que dificulta a ação do fator Disposição é a idade. Embora varie para cada indivíduo, quanto mais avançamos em idade, menos disposição temos para coisas novas, e as causas são biológicas mesmo, pois quanto mais velhos ficamos, menor vai ficando nossa capacidade de processamento, então a tendência é que nos agarremos aos padrões cerebrais já consolidados, e aí surge a famosa frase: "Boas eram as músicas do meu tempo..." - e o preconceito: "...porque as de hoje não prestam!" Digo preconceito pois não é possível que TODAS as músicas recentes sejam ruins e mesmo que sejam, para fazer um julgamento isento, para começar, é necessária a Disposição que claramente já não há em quem emite uma frase dessas. Contudo, embora essas coisas aconteçam com bastante regularidade, de modo algum afirmarei que as pessoas presas ao passado ou restritas a apenas alguns poucos estilos musicais/artistas sejam preconceituosas ou incultas, mas acredito que para que isso não seja uma verdade, um quarto grande fator formador do gosto deva entrar nessa alquimia. Trataremos dele no próximo artigo, até lá!
Até aqui, qual sua opinião? Utilize os comentários, vamos explorar a questão!
2 comentários:
Legal mais uma vez Rodrigo!
Só um comentário para complementar, pessoas com "alto nível cultural", como você definiu, às vezes sofrem de um outro tipo de mal que é o preconceito, principalmente contra determinados gêneros musicias. E não me excluo desta.
Olá Edison!
Infelizmente todos nós temos preconceitos, parece que fomos criados para ser assim... Acredito que devamos lutar contra isso.
Aproveito seu gancho para dizer que acredito que o fato de nós gostarmos de determinado tipo de música e não de outros, não significa que temos preconceito. O preconceito se manifesta quando menosprezamos estilos musicais mesmo tendo pouco ou nenhum contato/entendimento deles e ainda assim emitimos um juízo.
Obrigado pelo complemento e por acompanhar a serie, abraço!
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