A América Latina - encruzilhada histórica de exploradores mediterrâneos, escravos africanos e povos indígenas - sempre foi um candinho de culturas musicais. Com o tango e a salsa, especialmente a obra de Piazzolla, hoje populares como nunca, o candinho está fervendo, afirma Jan Fairley.
Das flautas andinas ao tango, da harpa paraguaia à bossa nova, a música popular da América Latina tem-se destacado bastante neste século em todo o mundo. Os portugueses, espanhóis e praticamente todos os outros dominadores europeus exploraram o Novo Mundo e nele se instalaram, de modo que não é de surpreender a incrível diversidade de excelente música hoje encontrada nesta parte do mundo; ela se desenvolveu a partir da contribuição dos conquistadores; dos indígenas originais, que, embora em grande parte dizimados, deixaram seu legado; dos que foram trazidos como escravos de numerosas tribos e nações; dos posteriores imigrantes e migrantes; e de todos os que aqui acorreram em busca de uma nova vida, de um futuro, de seus sonhos de riqueza. É a maneira surpreendente pela qual todos os múltiplos ingredientes dessas três fontes principais - europeia, africana, indígena - se combinam que explica essa música tão original: todos os instrumentos europeus que chegaram às mãos dos americanos evoluíram de forma a atender a estética local: violões de variadas formas e tamanhos, os mais diversos instrumentos de percussão e estilos vocais - todos acabaram gerando múltiplas tradições.
Os navios iam de porto a porto, transportando não apenas mercadorias, mas também tradições musicais com as pessoas que carregavam. É por isso que o tango, que surgiu no Rio da Prata (Argentina/Uruguai), possui ingredientes envolvendo a habanera cubana, com suas características de danças campestres europeias, a milonga do gaúcho que trás seu gado ao porto, e elementos africanos, andaluzes e italianos. O tango, com suas histórias de amor ou sonhos frustrados e da clássica traição, traça uma metáfora maior dos sonhos e esperanças não concretizadas dos imigrantes, bem como dos sonhos que envolvem a nação e as mulheres, comuns a outros gêneros.
Por vários séculos, Cuba foi o Picadilly Circus dos negócios, com Havana como maior porto das Américas, uma cidade cosmopolita, e a ilha há muito ficou conhecida como inovadora musical. Como no Brasil, os escravos africanos criaram novas culturas de resistência que sobrevivem até hoje, inalteradas pela Revolução, tocando qualquer coisa que possa ser usada como percussão e desenvolvendo um tocar de tambores secreto dentro dos cultos religiosos. Elas constituem um dos principais ingredientes de inspiradas composições do século XX que incluem o jazz latino e a salsa.
No próximo capítulo: Conheça a música do Brasil (a verdadeira), Argentina, Cuba e Haiti - Indicações de CDs, resenhas, vídeos, audições - não perca!!
2 comentários:
Olá, Rodrigo
Gostaria de convidar você e seus leitores para as comemorações do 2º aniversário do Jazz + Bossa + Baratos Outros (www.ericocordeiro.blogspot.com).
Abração!
Ficamos no aguardo!
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