RECAPITULANDO:
Passamos toda nossa vida aprendendo coisas e formando ou aceitando conceitos. Mas de tudo isso, o que será incontestavelmente verdadeiro, ou seja, em que estou sendo enganado?
Partindo desta pergunta inicial, escolhi utilizar o método cartesiano para encontrar as verdades; no entanto, no ponto em que estou, mais dúvidas surgiram e percebi que todo o conhecimento que possuo advindo dos sentidos pode ser enganoso, os únicos argumentos que persistem são os de que tudo o que posso imaginar ou sonhar devem vir de percepções do mundo externo e as verdades matemáticas e geométricas.
Argumentos que serão quebrados no texto que segue.
***Para entender melhor, antes, leia AQUI o artigo anterior.***
DEUS EXISTE?
Neste momento não tenho condições de responder a essa pergunta, mas é concebível a perspectiva do Criador onipotente e onisciente existir?
Certamente que sim! - Então raciocina Descartes:
"Ora, quem me poderá assegurar que esse Deus não tenha feito com que não haja nenhuma terra, céu, nenhum corpo extenso, figura, grandeza, lugar, etc, e que, não obstante, eu tenha os sentimentos de todas essas coisas ou que tudo isso exista de modo diferente do que percebo ou penso?"
Assim, 4 + 5 pode não ser 9 ou, não havendo de fato nem 4 nem 5, muito menos haveria sua somatória, um provável 9!!
Se tudo o que sonho e imagino vêm do que sinto, não poderia esse poderoso Deus me fazer ver as coisas de modos diferentes dos que são de fato, ou que elas nem existam, apenas pareçam a mim existir?
Seria possível que o Deus de poder supremo esteja a enganar meus sentidos com pensamentos ilusórios?
De modo algum! - o caro leitor poderia dizer - pois se Deus existe, ele é bom! Mas e se fizesse parte dessa Sua bondade, justamente não me permitir ver as coisas como elas realmente são, pois assim um grande mal se abateria sobre mim?
Ok, você poderia afirmar que tudo isso é fantasioso demais, poderia até alegar que Deus nem existe. Que somos produtos do acaso ou do destino ou outra explicação qualquer seja dada. Entretanto uma coisa é certa: eu falho, eu me engano, e isso não seria o suficiente para alegar uma espécie de imperfeição? Se posso me enganar com algo, não poderia em tese também me enganar com tudo? Penso que sim. Além de duvidar de meus sentidos, como comecei a fazer no artigo anterior, devo duvidar também de meus pensamentos!
Só que isso não é tarefa fácil, então recorro novamente a Descartes:
"Não basta ter feito tais considerações, é preciso ainda que cuide de lembrar-me delas; pois essas antigas e ordinárias opiniões ainda me voltam as vezes ao pensamento. (...) de sorte que se tem muito mais razão em acreditar nelas do que em negá-las."
Certo senhor Descartes, então como farei para não tomar em meu juízo nem meus sentidos nem meus pensamentos?
"Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte da verdade, mas certo gênio maligno, não menos ardiloso e enganador do que poderoso, que empregou toda a sua indústria em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores que vemos são apenas ilusões e enganos de que ele se serve para surpreender minha credulidade. Considerar-me-ei a mim mesmo absolutamente desprovido de mãos, de olhos, de carne, de sangue, desprovido de quaisquer sentidos, mas dotado da falsa crença de ter todas essas coisas. Permanecerei obstinadamente apegado a esse pensamento (...)"
Repare que o artifício que Descartes propõe é uma fantasia. O gênio maligno não existe de fato, é apenas uma artimanha para que eu sempre me lembre de não considerar como verdade o que é obtido pelos sentidos e pelos pensamentos.
Agindo dessa forma, poderei chegar a dois pontos finais em minha investigação, diz Descartes:
"(...) e se, por esse meio, não está em meu poder chegar ao conhecimento de qualquer verdade, ao menos está ao meu alcance suspender meu juízo. Eis por que cuidarei zelosamente de não receber em minha crença nenhuma falsidade, e prepararei tão bem meu espírito (mente) a todos os ardis desse grande enganador que, por poderoso e ardiloso que seja, nunca poderá impor-me algo."
Em outras palavras: 1 - alcançar a verdade; 2 - suspender meu juízo para não ser enganado.
Em outras palavras: 1 - alcançar a verdade; 2 - suspender meu juízo para não ser enganado.
Agora, para finalizar o artigo, encerro momentaneamente meu juízo.
Não perca o próximo artigo, nele alcançaremos a primeira verdade irrefutável, até lá!
Fontes: DESCARTES, René - Meditações Metafísicas, Meditação Primeira - Coleção "Pensadores", editora Abril
Fontes: DESCARTES, René - Meditações Metafísicas, Meditação Primeira - Coleção "Pensadores", editora Abril
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