Flávia, ao centro |
Flávia Nogueira é musicoterapeuta formada pela FPA (Faculdade Paulista de Artes), uma das poucas faculdades que tem graduação desse curso no Brasil. É autora do trabalho "Estímulo da Eficácia Cognitiva em Idosos Institucionalizados", entre outros e diversos artigos. Além disso é musicista formada pelo conservatório de Tatuí, um dos melhores da América Latina, e leciona piano e canto há quase 20 anos.
Segue abaixo uma entrevista onde será esclarecido de que se trata exatamente a musicoterapia. Ao contrário do que muitos pensam, não é apenas colocar músicas para os pacientes ouvirem, aliás condiz mais com a medicina do que com a música.
Caso você queira acrescentar alguma pergunta ou tirar dúvidas, utilize os comentários que os passarei para ela responder.
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Ah, Flávia é minha esposa há 14 anos.
1- O que é musicoterapia? Quais seus objetivos?
Segundo a Federação Mundial de Musicoterapia (1998), “Musicoterapia é a utilização da
música e seus elementos como som, ritmo, melodia e harmonia, por um musicoterapeuta
qualificado, em um processo estruturado a fim de facilitar e promover a comunicação,
o relacionamento, aprendizagem, mobilização, expressão e a organização, seja física,
emocional, mental, social e cognitiva”.
Portanto, a musicoterapia é uma forma de tratamento que se utiliza da música e seus
elementos com objetivos terapêuticos, atuando tanto na promoção da saúde, como na
reabilitação.
2- Por que você se interessou pela musicoterapia?
Em minha experiência como musicista e, principalmente como professora de música,
percebia o forte impacto que a música exercia sobre as pessoas. Na musicoterapia, busquei
compreender mais sobre tais efeitos, assim como aprender maneiras de utilizar a música de
maneira efetivamente terapêutica.
3- Um musicoterapeuta deve ser também músico?
Sim. O profissional musicoterapeuta, além das áreas da saúde e psicologia, deve dominar a
linguagem musical e, pelo menos, um instrumento harmônico.
4- Qual o público alvo da musicoterapia?
Todos os indivíduos que busquem de alguma maneira, melhorar a saúde, seja mental,
psicológica e/ou física.
5- Saúde física também?
O tratamento musicoterapeutico é bastante utilizado na reabilitação física. Por exemplo,
pacientes com dificuldades motoras devido a seqüelas de AVC (Acidente vascular
cerebral: “derrame”), acidentes propriamente dito (automobilísticos, atropelamentos), e
tantos outros, se beneficiam muito com essa forma de tratamento. Indivíduos com esse
perfil são normalmente encaminhados para um trabalho com fisioterapeutas, porém,
a adesão no tratamento é muitas vezes baixa, pois lhes falta estímulo e motivação, os
movimentos são repetitivos e a maioria dos pacientes considera algo tedioso. Estudos
recentes, realizados inclusive por fisioterapeutas, demonstram que a música atuando na
motivação motora, estimula movimentos mais livres e por um maior tempo. Uma hora de
trabalho fisioterapêutico pode ser extremamente enfadonho, porém, o mesmo tempo em
uma sessão de musicoterapia, demonstra ser prazeroso, aliando, além dos benefícios físicos, também mentais, psicológicos e sociais (quando realizadas em grupos).
6- Como se dá o tratamento através da musicoterapia?
A musicoterapia utiliza-se de diversas técnicas específicas. Ao iniciar um tratamento, o
indivíduo é avaliado pelo musicoterapeuta, o qual traça um objetivo e elabora a melhor
intervenção a fim de alcançar o objetivo traçado. Ao contrário que muitos pensam, não existe músicas prontas como uma “farmacopéia musical”. Para cada caso, o profissional irá
escolher a intervenção mais apropriada, sendo que escutar música é mais uma das técnicas,
entre muitas outras.
7- A musicoterapia cura doenças?
Primeiramente, o termo “doença” precisa ser definido. Se entendo por doença aquilo que
me faz mal, que de alguma maneira me prejudica, sim, a musicoterapia pode curar, afinal,
esse é o objetivo de uma terapia, resolver as problemáticas trazidas pelo cliente/paciente.
Certamente, muitas “doenças” necessitam ser tratadas com medicamentos, o que torna, em
muitos casos, imprescindível o acompanhamento de um médico. Por outro lado, estudos
comprovam que a música pode gerar vários efeitos biológicos no organismo, como por
exemplo, a diminuição da dor e controle da pressão arterial, acarretando na redução o uso
de medicamentos.
8- Como é reconhecida a profissão no mundo e no Brasil em particular?
A musicoterapia ainda é uma profissão nova. Ela surgiu na década de 40, nos Estados
Unidos, e desde então vem se difundindo no mundo.
Em vários países, assim como nossa vizinha Argentina, a musicoterapia já faz parte
do sistema público de saúde. No Brasil, a profissão foi inserida no código brasileiro de
ocupações (CBO) e pouco a pouco vem ganhando seu espaço. Recentemente alguns estados abriram concursos públicos para musicoterapeutas prestarem atendimento nos postos de
saúde.
9- Como a musicoterapia se relaciona com outras formas de terapia, com a psicologia e
com a filosofia?
10- Quais são as principais questões éticas que o musicoterapeuta enfrenta na aplicação de suas técnicas?
Assim como nas outras profissões da área da saúde, a musicoterapia possui um código
de ética que dever ser respeitado. Uma questão ética importante é quanto a aceitação de
um paciente. O musicoterapeuta deve avaliar se determinado paciente pode realmente se
beneficiar com a musicoterapia. Embora o campo de atendimento da musicoterapia seja
vasto, existem casos em que a indicação de outra terapia, ou mesmo de outro terapeuta
pode se mostrar mais adequada.
11- Existem contraindicações na musicoterapia?
Em alguns casos sim. Os estudos sobre os efeitos iatrogênicos da música ainda são
recentes, porém, em pacientes com epilepsia musicogênica, a música pode desencadear convulsões. Mesmo com pacientes epiléticos “tradicionais” o uso da música deve ser bem
criterioso.
12- Há a prescrição de medicamentos na musicoterapia? Por quê?
Não. O musicoterapeuta, assim como outros profissionais da área da saúde devem possuir
um conhecimento sobre farmacologia, porém, o único profissional que pode receitar
medicamentos é o médico, nenhum outro profissional pode gerar receita medicamentosa.
13- Qual o tempo médio de tratamento para que ele seja eficaz?
Não existe um tempo médio. A duração de um processo terapêutico varia de acordo com o
caso do paciente. A alta ocorre quando os objetivos terapêuticos forem alcançados.
14- Poderia citar alguns exemplos de objetivos terapêuticos?
O objetivo é diminuir ou eliminar sintomas indesejáveis, tais como: estresse, depressão,
desequilíbrio emocional, dificuldades cognitivas como aprendizagem, memória (comum em
pacientes idosos), dificuldades de linguagem (como afasias), dificuldades motoras, e tantas
outras.
15- Quais trabalhos você está desenvolvendo atualmente?
Atualmente, além de lecionar piano, canto e musicalização infantil, atuo como
musicoterapeuta em uma instituição asilar (Asilo Municipal), trabalhando com idosos.
Neste trabalho, a musicoterapia tem se mostrado muito benéfica, seja com idosos
independentes e lúcidos, como aqueles que se encontram acamados e acometidos por
demências como o Alzheimer.
16- Considerações finais
Presente em muitas instituições, a musicoterapia está conquistando espaço e respeito, se
mostrando uma forma de tratamento séria em meio aos profissionais da saúde e também do
público.
Porém, por ser uma profissão relativamente desconhecida, muitos ainda pensam
que “colocar música” é sinônimo de musicoterapia, como por exemplo, dentistas que tocam
música na sala de tratamento e anunciam que estão realizando musicoterapia. Somente o
profissional graduado (a graduação dura 4 anos) pode exercer a profissão. Nem mesmo um
músico experiente está habilitado para exercer a musicoterapia. Sou professora de música
há muitos anos, e sei que a música pode ser terapêutica e trazer benefícios, porém, realizar
um tratamento, somente por um profissional qualificado.
Obrigado Flávia!
1- O que é musicoterapia? Quais seus objetivos?
Segundo a Federação Mundial de Musicoterapia (1998), “Musicoterapia é a utilização da
música e seus elementos como som, ritmo, melodia e harmonia, por um musicoterapeuta
qualificado, em um processo estruturado a fim de facilitar e promover a comunicação,
o relacionamento, aprendizagem, mobilização, expressão e a organização, seja física,
emocional, mental, social e cognitiva”.
Portanto, a musicoterapia é uma forma de tratamento que se utiliza da música e seus
elementos com objetivos terapêuticos, atuando tanto na promoção da saúde, como na
reabilitação.
2- Por que você se interessou pela musicoterapia?
Em minha experiência como musicista e, principalmente como professora de música,
percebia o forte impacto que a música exercia sobre as pessoas. Na musicoterapia, busquei
compreender mais sobre tais efeitos, assim como aprender maneiras de utilizar a música de
maneira efetivamente terapêutica.
3- Um musicoterapeuta deve ser também músico?
Sim. O profissional musicoterapeuta, além das áreas da saúde e psicologia, deve dominar a
linguagem musical e, pelo menos, um instrumento harmônico.
4- Qual o público alvo da musicoterapia?
Todos os indivíduos que busquem de alguma maneira, melhorar a saúde, seja mental,
psicológica e/ou física.
5- Saúde física também?
O tratamento musicoterapeutico é bastante utilizado na reabilitação física. Por exemplo,
pacientes com dificuldades motoras devido a seqüelas de AVC (Acidente vascular
cerebral: “derrame”), acidentes propriamente dito (automobilísticos, atropelamentos), e
tantos outros, se beneficiam muito com essa forma de tratamento. Indivíduos com esse
perfil são normalmente encaminhados para um trabalho com fisioterapeutas, porém,
a adesão no tratamento é muitas vezes baixa, pois lhes falta estímulo e motivação, os
movimentos são repetitivos e a maioria dos pacientes considera algo tedioso. Estudos
recentes, realizados inclusive por fisioterapeutas, demonstram que a música atuando na
motivação motora, estimula movimentos mais livres e por um maior tempo. Uma hora de
trabalho fisioterapêutico pode ser extremamente enfadonho, porém, o mesmo tempo em
uma sessão de musicoterapia, demonstra ser prazeroso, aliando, além dos benefícios físicos, também mentais, psicológicos e sociais (quando realizadas em grupos).
6- Como se dá o tratamento através da musicoterapia?
A musicoterapia utiliza-se de diversas técnicas específicas. Ao iniciar um tratamento, o
indivíduo é avaliado pelo musicoterapeuta, o qual traça um objetivo e elabora a melhor
intervenção a fim de alcançar o objetivo traçado. Ao contrário que muitos pensam, não existe músicas prontas como uma “farmacopéia musical”. Para cada caso, o profissional irá
escolher a intervenção mais apropriada, sendo que escutar música é mais uma das técnicas,
entre muitas outras.
7- A musicoterapia cura doenças?
Primeiramente, o termo “doença” precisa ser definido. Se entendo por doença aquilo que
me faz mal, que de alguma maneira me prejudica, sim, a musicoterapia pode curar, afinal,
esse é o objetivo de uma terapia, resolver as problemáticas trazidas pelo cliente/paciente.
Certamente, muitas “doenças” necessitam ser tratadas com medicamentos, o que torna, em
muitos casos, imprescindível o acompanhamento de um médico. Por outro lado, estudos
comprovam que a música pode gerar vários efeitos biológicos no organismo, como por
exemplo, a diminuição da dor e controle da pressão arterial, acarretando na redução o uso
de medicamentos.
8- Como é reconhecida a profissão no mundo e no Brasil em particular?
A musicoterapia ainda é uma profissão nova. Ela surgiu na década de 40, nos Estados
Unidos, e desde então vem se difundindo no mundo.
Em vários países, assim como nossa vizinha Argentina, a musicoterapia já faz parte
do sistema público de saúde. No Brasil, a profissão foi inserida no código brasileiro de
ocupações (CBO) e pouco a pouco vem ganhando seu espaço. Recentemente alguns estados abriram concursos públicos para musicoterapeutas prestarem atendimento nos postos de
saúde.
9- Como a musicoterapia se relaciona com outras formas de terapia, com a psicologia e
com a filosofia?
É uma tendência atual a interdisciplinaridade nos atendimentos. Assim, a musicoterapia
se relaciona com a classe médica e com profissionais da psicologia, fonoaudiologia,
fisioterapia e terapia ocupacional. Quanto a filosofia, sabe-se da existência da filosofia
clínica, porém, na prática, desconheço trabalhos que relacionem essas duas áreas.
10- Quais são as principais questões éticas que o musicoterapeuta enfrenta na aplicação de suas técnicas?
Assim como nas outras profissões da área da saúde, a musicoterapia possui um código
de ética que dever ser respeitado. Uma questão ética importante é quanto a aceitação de
um paciente. O musicoterapeuta deve avaliar se determinado paciente pode realmente se
beneficiar com a musicoterapia. Embora o campo de atendimento da musicoterapia seja
vasto, existem casos em que a indicação de outra terapia, ou mesmo de outro terapeuta
pode se mostrar mais adequada.
11- Existem contraindicações na musicoterapia?
Em alguns casos sim. Os estudos sobre os efeitos iatrogênicos da música ainda são
recentes, porém, em pacientes com epilepsia musicogênica, a música pode desencadear convulsões. Mesmo com pacientes epiléticos “tradicionais” o uso da música deve ser bem
criterioso.
12- Há a prescrição de medicamentos na musicoterapia? Por quê?
Não. O musicoterapeuta, assim como outros profissionais da área da saúde devem possuir
um conhecimento sobre farmacologia, porém, o único profissional que pode receitar
medicamentos é o médico, nenhum outro profissional pode gerar receita medicamentosa.
13- Qual o tempo médio de tratamento para que ele seja eficaz?
Não existe um tempo médio. A duração de um processo terapêutico varia de acordo com o
caso do paciente. A alta ocorre quando os objetivos terapêuticos forem alcançados.
14- Poderia citar alguns exemplos de objetivos terapêuticos?
O objetivo é diminuir ou eliminar sintomas indesejáveis, tais como: estresse, depressão,
desequilíbrio emocional, dificuldades cognitivas como aprendizagem, memória (comum em
pacientes idosos), dificuldades de linguagem (como afasias), dificuldades motoras, e tantas
outras.
15- Quais trabalhos você está desenvolvendo atualmente?
Atualmente, além de lecionar piano, canto e musicalização infantil, atuo como
musicoterapeuta em uma instituição asilar (Asilo Municipal), trabalhando com idosos.
Neste trabalho, a musicoterapia tem se mostrado muito benéfica, seja com idosos
independentes e lúcidos, como aqueles que se encontram acamados e acometidos por
demências como o Alzheimer.
16- Considerações finais
Presente em muitas instituições, a musicoterapia está conquistando espaço e respeito, se
mostrando uma forma de tratamento séria em meio aos profissionais da saúde e também do
público.
Porém, por ser uma profissão relativamente desconhecida, muitos ainda pensam
que “colocar música” é sinônimo de musicoterapia, como por exemplo, dentistas que tocam
música na sala de tratamento e anunciam que estão realizando musicoterapia. Somente o
profissional graduado (a graduação dura 4 anos) pode exercer a profissão. Nem mesmo um
músico experiente está habilitado para exercer a musicoterapia. Sou professora de música
há muitos anos, e sei que a música pode ser terapêutica e trazer benefícios, porém, realizar
um tratamento, somente por um profissional qualificado.
Obrigado Flávia!
Caso o leitor tenha mais dúvidas ou questões, deixe um comentário que eu as encaminharei.
Até a próxima!
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