É Proibido Fumar (2009)
Direção: Anna Muylaert. Com Glória Pires e Paulo Miklos.
Sinopse: Professora de música solitária tem como seu maior companheiro o cigarro. Com a chegada de um vizinho solteirão e também músico, ela idealiza a possibilidade de uma nova vida ao lado do sujeito, mas para isso terá que abandonar seu antigo companheiro cancerígeno.
O cinema nacional recente sofre de um mal típico daqueles que estão evoluindo: sempre carece de alguma coisa - se tem um boa história, estragam o roteiro; se tem um bom roteiro, é mal dirigido ou peca nas atuações; etc. Claro que filme perfeito é difícil encontrar em qualquer lugar do mundo, mas é impressionante como por aqui a coisa parece ainda distante.
Ary França, de 'Durval Discos' |
Anna Muylaert talvez seja uma exceção nesse cenário; ótima observadora dos costumes da pessoa comum, transporta para seus filmes certos detalhes pitorescos e bem sacados. Esse já é seu segundo longa, o primeiro foi o bastante interessante 'Durval Discos' (recomendo) e, somado com 'É Proibido Fumar', chegamos a conclusão que ela adora protagonistas feios - brincadeira! - chegamos a conclusão que ela está disposta mesmo a fazer o cinema chamado de "realista" (apesar de que em Durval Discos termos alguns momentos surreais, e por isso o considero melhor). Eu, particularmente não sou um entusiasta desse tipo de cinema, acho a realidade tão sem graça que quando assisto a um filme, prefiro uma boa dose de ilusão.
Baby/Glória Pires |
'É Proibido Fumar' é um recorte da vida de algumas pessoas que fazem parte do cotidiano de Baby (Glória Pires), uma professora de música solteirona e fumante inveterada que, como a maioria de nós, tem lá seus problemas, mas nenhum tão sério assim. O filme não é comédia e não é drama, quase não é nada. O roteiro segue mostrando situações corriqueiras e muitas desinteressantes, como lidar com alunos de música sem-talento, intrigas familiares fúteis ou ciúmes. A parte legal é a demonstração de como é tratado hoje em dia o fumante e um pouco de seu drama pessoal. O cigarro faz mal, fato. Mas como ficam os fumantes? Cada vez mais segregados e atirados em um canto. Assim como o filme, não faço juízo de valor, apenas constato. Não acho que o filme faz apologia ao cigarro. Ele mostra os dramas enfrentados pelos fumantes - "lutemos contra o cigarro e não contra os fumantes".
Baby (Glória Pires) surge em cena quase sempre mal vestida e cuidada. Apenas quando ela tenta seduzir o vizinho é que procura melhorar sua aparência, aí temos sequências maçantes em cabeleireiros e momentos de conversa fiada nas horas de depilação. Não gostei do trabalho da atriz, explosões de humor muito forçadas.
Paulo Miklos vem se firmando como ator. Aqui ele interpreta Max, um músico da noite meio bicho-grilo. Ele até trabalha bem, mas achei seu personagem muito chato, sabe aquele tipo alienado boa-gente? Sem contar que esse estereótipo de músico já caiu, hoje em dia não tem nada a ver caracterizar músicos dessa forma, sabe? Cara cabeça fresca que fala como surfista? A maioria dos músicos hoje não são mais assim. Seu melhor momento é quando canta na churrascaria, sem dúvida uma das mais belas vozes do rock nacional.
Os pontos altos do filme vêm graças a ótimas participações. Marisa Orth (que também atua em Durval Discos), na cena em que discute com Baby sobre um sofá e pára para atender o telefone falando nada em inglês, é muito engraçado. Além de Pereio como dono de churrascaria e sua "sambadinha", e o síndico Abujanra.
Lamentável é a conclusão do momento romântico do casal Baby/Max quando vão para cama: ao invés de sensualidade, a diretora prefere a bizarrice colocando em close o "cofrinho" de Paulo Miklos, totalmente broxante e sem graça. Outra de doer é quando Baby vai choramingar para a irmã a respeito de um bolo que a tia falecida fazia - irritante! - Antes que alguém diga, eu sei que o motivo da tristeza dela era outro, mas ficou irritante ainda assim.
Concluo dizendo que esse filme foi premiado cinco vezes no último festival de cinema do Rio de Janeiro. Ganhou como melhor longa de ficção, melhor roteiro, montagem, trilha sonora (excelente!) e melhor direção. Comparado a outros filmes nacionais, julgo justos os prêmios, mas é uma prova de como por aqui a coisa anda fraca.
Nota 5 (Razoável)
Lamentável é a conclusão do momento romântico do casal Baby/Max quando vão para cama: ao invés de sensualidade, a diretora prefere a bizarrice colocando em close o "cofrinho" de Paulo Miklos, totalmente broxante e sem graça. Outra de doer é quando Baby vai choramingar para a irmã a respeito de um bolo que a tia falecida fazia - irritante! - Antes que alguém diga, eu sei que o motivo da tristeza dela era outro, mas ficou irritante ainda assim.
Concluo dizendo que esse filme foi premiado cinco vezes no último festival de cinema do Rio de Janeiro. Ganhou como melhor longa de ficção, melhor roteiro, montagem, trilha sonora (excelente!) e melhor direção. Comparado a outros filmes nacionais, julgo justos os prêmios, mas é uma prova de como por aqui a coisa anda fraca.
Nota 5 (Razoável)
8 comentários:
O que você acha que seria um filme bom Nacional? Estilo Homem Aranha? Ótimo filme cara.
Gustavo acho vários filmes nacionais bons, inclusive o 'Durval Discos' da própria Ana Muylaert. Não é porque achei 'É Proibido Fumar' razoável que eu seja merecedor de sua ironia. Você o achou excelente? Ótimo! Meus argumentos estão expostos, faça uma contra-argumentação e não gracinhas.
Concordo contigo quando diz que os filmes nunca são completos. Existem exceções. Olga, por exemplo, foi um filme que achei muito bom. Quanto ao filme É Proibido Fumar, não posso emitir opinião pois ainda não o vi.
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Caro anônimo, eu não disse em nenhum momento que os filmes nunca são completos. Existem verdadeiras obras-primas, inclusive no cinema nacional. O que eu disse é que ATUALMENTE o cinema brasileiro anda patinando.
Eae Rodrigo... achei massa o texto e o blog... gostei do "proibido fumar" justamente pela levada do filme, os diálogos - muito bem elaborados - e um enredo de primeira... tu sabes que saquei a jogada do Max somente na 2a vez q vi o filme? ;P ...nota 8 pra mim... flw
Olá Jeison, valeu a presença e a participação!
Sem dúvida que o filme tem méritos, que bom que gostou do blog e do filme também, espero vê-lo por aqui mais vezes.
Abraço!
Oi, Rodrigo. Ando numa correria só. Depois de dias é que vi seu comentário no meu post. Vejo esse "mal típico" que você citou como algo que se pode encontrar em diversas cinematografias, não só na brasileira. Na própria indústria norteamericana, que já é mais do que estruturada, podemos encontrar diversos filmes com as características que você bem citou. Concordo que o equilíbrio é algo difícil de se conseguir, e poucos cineastas têm tal poder de alcance. Com certeza Anna Muylaert está incluída, principalmente por 'Durval Discos', obra superior à 'Proibido Fumar' (que também considero um grande e honesto filme). Cara, eu vou te falar: conheço dezenas de Max`s rsrsrs. Esse tipo existe e MUITO ainda. Apesar de não concordar com todos seus pontos de vista, você os expõe com bons argumentos, com exceção, a meu ver, de que a produção nacional anda fraca. Só em 2010, temos grandes obras, como, por exemplo: 'Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos', 'Sonhos Roubados', 'Utopia e Barbárie','Quincas Berro D'água', 'Olhos Azuis', 'As Melhores Coisas do Mundo' etc. Abraços !!!!
Valeu a presença Mattheus, espero que volte mais vezes!
Confesso que ando negligenciando as produções brasileiras, se você como especialista afirma que esse ano foi bom, reavaliarei minha opinião.
Abraço!
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