Marvin Pentz Gay Jr. foi um dos maiores artistas da época da gravadora Motown, “maior que Stevie Wonder”, disseram alguns, e não é exagero: excelente cantor, compositor, arranjador, produtor musical, multi-instrumentista e letrista; além de ser responsável pelo álbum conceitual “What’s Going On” (1971), considerado por muitos o melhor álbum conceitual da história, e “Let’s Get It On” (1973), um verdadeiro marco do R&B.
Nos idos de 1977, conseguiu finalmente se separar de sua esposa Anna Gordy, que também era irmã do seu patrão, ou seja, Berry Gordy, o dono da gravadora Motown. A moça não quis sair da jogada de mãos abanando e entrou na justiça para arrancar uma graninha do nosso amigo Marvin, e conseguiu! No acordo judicial, todo o dinheiro arrecadado com as vendas do próximo álbum e parte do salário do moço, iriam direto para a conta bancária da megera.
Extremamente sensível e abalado com todo o desgaste emocional do momento em que vivia, Marvin Gaye compôs diversas músicas auto-biográficas que expunham sua antiga vida de casado e gravou um álbum duplo chamado “Here, My Dear”, o qual tratamos hoje. A coisa era tão escancarada, que sua ex-mulher quis processá-lo por invasão de privacidade.
O álbum não foi bem com a crítica e nem com o público da época, jogando Marvin no início de uma queda de popularidade que só seria superada com o lançamento do hit “Sexual Healing” anos depois.
Sendo revisto hoje, esse disco é encarado como de uma beleza ímpar, pois consegue transformar a dor em uma coisa sublime, que varia momentos doces, calmos e sedutores.
O senhor Gaye passou por várias situações boas e ruins em sua vida após estes eventos narrados e, aos 45 anos de idade, tentando se recuperar do vício de drogas e da depressão na casa dos parentes, morreu assassinado com tiro desferido por seu próprio pai, um pastor evangélico, e com a arma que ele mesmo o havia presenteado. Tudo isso apenas por causa de uma discussão acalorada sobre documentos perdidos. O ano era 1984.
Here, My Dear (1978)
Curiosidades do álbum
- Fascinado, de maneira mórbida, por suas próprias desventuras, as canções documentam a desintegração de seu casamento.
- Ao abrir a capa do vinil, mostra-se o amor na forma do jogo Monopoly (o famoso Banco Imobiliário), chamado “Judgment”, embrulhado em corações ameaçados por adagas e outros símbolos de mau agouro.
- É um exemplo raro e comovente de sinceridade artística.
Audição Comentada
Meus Destaques Em Vermelho
01 – Here, My Dear
Dedicatória e ao fundo um doo-wop. Guitarra com wah-wah (cry baby). Declamações.
02 – I Met A Little Girl
A ideia musical permanece, mas agora Marvin canta com um doce falsete à lá Al Green. Belas mudanças de tom, coincidindo com as mudanças de ano narradas na letra.
03 – When Did You Stop Loving
Inicia com uma narração e um belíssimo sax tenor ao fundo junto com um baixo cheio de groove. Aos pouco Marvin começa a soltar a potência de sua voz. Observem os belíssimos backing vocals feitos pelo próprio e o sempre presente doo-wop. Aparece um trompete sem agredir a melodia. Momento mágico quando o sax sola ao fundo da melodia principal fazendo uma segunda voz. Modulações no canto perfeitamente articuladas e colocadas. Arte!
04 – Anger
Percussão e bateria sem sobressaltos, baixo swingado e fazendo uma linha independente, teclado segurando a base: execução em alto nível.
05 – Is That Enough
Um tecladinho chato é compensado pela presença de um sax soprano. O canto se mantém estável sem grandes nuanças. Um bonito solo de sax alto.
06 – Everybody Needs Love
Um compasso complexo, talvez as figuras rítmicas… O canto se solta mais. Putz, na ponte o tom muda e o doo-woop faz meia escala ascendente e monta a cama para o refrão! No meio do refrão Marvin muda o tom de novo e logo é emendado um solo de trompete e depois de um flugelhorn. Caraca, essa é muito elaborada! Se eu for descrever tudo que acontece nessa música o texto vai ficar grande…Sensacional!
07 – Time To Get It Together
De novo o odioso teclado. Essa música parece mais um interlúdio. A guitarra até faz um trabalhinho interessante e o sax alto, uns contracantos.
08 – Sparrow
Tumbadoras, um arranjo de sopros, canto e contracanto. Praticamente um smooth jazz, interessante! O sax alto é o destaque, o solo vai do tradicional ao improviso enlouquecido, quase chegando ao free jazz; enquanto o canto permanece imutável em sua tranquilidade, fazendo um paradoxo. Genial!
09 – Anna’s Song
Uma beleza de guitarra semi-acústica ao fundo, mas o teclado em evidência estraga. Diferente da música anterior, essa exagera na mesmice. Um solo bizarro de teclado!!! Que timbre horroroso!
10 – When Did You Stop Loving (Instrumental)
Viva o sax tenor de Charles Owen!!
11 – A Funky Space Reincarnat
Um funk sensual, meio Parliament. Não faz muito meu gênero.
12 – You Can Leave But It’s Go
Apesar da guitarra de Gordon Banks, o tecladinho e a melodia linear acabam com a música.
13 – Falling In Love Again
Uma bela e esperançosa balada com um agradável refrão.
14 When Did You Stop Loving (Reprise)
Apenas um fechamento de poucos segundos, só com o tema da música reapresentado.
Comentários e texto: Rodrigo Nogueira
Fonte Histórica: Wikipédia
Curiosidades: 1001 discos para ouvir antes de morrer
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