Lied (no plural lieder) é uma palavra da língua alemã, de gênero neutro, que significa “canção”. É um termo tipicamente usado para classificar arranjos musicais para piano e cantor solo, com letras geralmente em alemão. Na Alemanha, esta forma musical é chamada de Kunstlied.
Barítono: voz masculina que se encontra entre o baixo e o tenor.
Fonte: Wikipedia
No panteão dos grandes intérpretes das canções alemãs – ou Lieder – o barítono alemão Dietrich Fischer-Dieskau (foto) se destaca. Suas gravações das canções completas para voz masculina de Schubert e da maioria das compostas por Brahms, Schumann, Mahler, Wolf, Liszt e Richard Strauss constituem um colossal empreendimento. Ele ofereceu ao lied uma voz única, uma inteligência consistente, um excelente domínio do rítmo e uma compreensão intuitiva da relação entre as palavras e a música. A ocasional ênfase em demasia das palavras ou das nuanças podem levar ao super-intelectualismo, a um tom prepotente e à falta de espontaneidade. Mas estes são pequenos deslizes em uma carreira que muito fez para estabelecer a canção alemã no repertório gravado e de concerto.
A extraordinária e bem-sucedida carreira em disco de Fischer-Diskeau quase eclipsou outros barítonos intérpretes de lieder menos prolíficos mas igualmente competentes de sua geração, principalmente Gérard Souzay (foto) e Herman Prey. Souzay é admirado por sua infalível beleza de timbre, pela interpretação inteligente e pela capacidade de ir ao âmago da canção sem lhe comprometer o sentido. Por vezes, ele enfatiza calmamente uma palavra de uma canção, e isto a tornava inteiramente nova. Menção especial também deve ser feita ao grande barítono holandês Robert Holl (foto) , que possui iguais qualidades. A opção por seu estilo purista ou pela abordagem intelectualizada de Fischer-Diskeau depende do gosto do ouvinte.
O que é um cantor de lieder?
O cantor ideal de lieder deve entender a diferença entre canção e ópera, reconhecendo que a intimidade, e não a opulência, é a chave do sucesso. A maioria das canções foram escritas para serem cantadas em salões ou pequenas salas de concerto, e é preciso que tanto o cantor quanto o pianista tenham isto em mente. Assim, não é imperativo possuir uma voz grande ou mesmo bonita para cantar bem os lieder (embora uma voz agradável sempre ajude). O mais importante é uma compreensão inata do texto e da música, uma capacidade de pintar as palavras com uma variedade de cores vocais e caracterizar a canção. A capacidade de se investigar em profundidade a alma do poeta em extremas condições de pobreza emocional ou física também é essencial para se estabelecer empatia com o Romantismo alemão (palavras como luta, pátria e espera). Um temperamento contemplativo aliado à sólida concentração é decisivo para o cantor de lieder. Um intelecto fino nunca toma um rumo equivocado. Viva a canção em vez de analisá-la. Nada deve ser inibido ou didático; e tudo deve ser espontâneo.
Grandes Barítonos Cantores de Lieder:
Possui um timbre de veludo e um bom gosto inato. Seus ciclos de Schubert podem não ser tão atraentes quanto outras versões, mas ele é sempre secundado com sua segurança e beleza por Geoffrey Parsons (seu pianista). Sua execução de “Im Freien” do Schwanengesang é forte candidato ao melhor disco de lieder graças ao grande senso de atmosfera e caráter, além dos andamentos enérgicos e sem sentimentalismo.
Disco recomendado: Canções de Brahms com Geoffrey Parsons (EMI)
Thomas Hampsom: Estadunidense.
Possui um timbre brilhante e dourado, aliado a um fraseado elegante, bem como sua grande inteligência e musicalidade. Este equilíbrio e nobreza são bem adequados às canções com letras sobre a mitologia grega de Schubert e Wolf, além de à alma frustrada do poeta nos ciclos de canções de Schumann. É surpreendente seu senso de tragédia e heroísmo decadente no “Winterreise” e em Mahler.
Disco recomendado: Canções de Schubert, Vol. 14 (Hyperium) – Escute uma faixa no player abaixo!
Capaz de definir bem o caráter das canções, Görne empresta uma rusticidade à “Wordsworth” aos pescadores, ermitões, pastores e caçadores que frequentam as canções de Schubert e Wolf. É um cantor instintivo que usa seu timbre escuro e natural para estabelecer de maneira espontânea o caráter do lied. Está começando a colorir a voz e dar mais dignidade à sua presença de palco, o que lhe propicia maior nobreza.
Disco recomendado: Schubert/Goethe lieder, com Andreas Haefliger (Decca).
Em 1995, lançou um disco de canções de Schubert com o pianista Malcolm Martineau pela EMI Eminence. Um belo disco que foi eclipsado pelo lançamento simultâneo do recital de Schubert mais carismático (embora um pouco operístico) de Bryan Terfel pela DG. Mas depois de um segundo disco pelo mesmo selo, com canções de Schumann, sua reputação firmou-se. Sua voz quente é usada de maneira natural e com grande inteligência, bem como com a pintura vocal que distinguia Fischer-Dieskau em suas primeiras gravações.
Disco recomendado: Canções de Schumann, Volume 2 (Hyperion).
Uma química notável desenvolveu-se entre Holzmar e Cooper (sua pianista), especialmente em Schubert. Cooper está preparada para atender às qualidades da escrita programática para piano, evocando com clareza todas as imagens e trabalhando diretamente a partir do texto, o que garante que cantor e pianista funcionem como um só. Holzmair é um barítono de voz leve, mas com uma reserva de forças que faz com que sua voz sempre soe bela. Seu trabalho com as palavras é sutil e eficiente, expressando bem o caráter da canção.
Disco recomendado: Schubert – Schwanengesang (Philips).
Possui imponente presença no palco e uma voz enorme, capaz de uma extraordinária variação de cores. É impressionante a caracterização de canções de Schubert envolvendo o sobrenatural como “O Rei dos Elfos”, “O Anão”, “A Morte e a Donzela” e “A Dança dos Espíritos”. Ele canta com força e energia; nas canções mais tranquilas, possui o mesmo grande controle do “pianissimo” que conhecíamos no grande baixo Hans Holter.
Disco recomendado: Schubert – Lieder de Goethe, com Charles Spencer (RCA).
Fonte: Revista Classic CD, nº 19
AUDIÇÃO COMENTADA
Thomas Hampson interpreta, de Schubert – Der zürnenden Diana
Der nünenden Diana (Diana enfurecida), com letra de Johann Mayrhofer, mostra a deusa grega como força destrutiva. Acteão era filho de Aristeu, filho de Apolo. Era famoso como caçador e foi devorado por seus próprios cães no monte Citerão. Parece que o jovem caçador viu Diana nua quando a deusa se banhava em uma fonte. Ultrajada, ela incitou a matilha de 50 cães a despedaçar seu dono. Nesta descrição romantizada da horrível cena não encontramos nenhum cão, mas ouça como Hampson faz uso de um verdadeiro senso de patético e fraqueza ao cantar “matten Sinnen”, no penúltimo verso, para sugerir a perda dos sentidos e a morte. Temos aqui um senso de tragédia entre o clássico e o romântico, mas com sentimento genuíno.
00:15 – Sim, retesa teu arco para ferir-me, Divina Dama! Em tua cólera 00:30 és ainda mais encantadora. Nunca vou lamentar ter te visto às margens floridas da fonte, 01:08 suplantando a beleza das outras ninfas que nela se banhavam/ Espalhando raios de beleza pelo bosque. 02:15 Tua imagem vai-me alegrar mesmo na hora da morte. Quem contemplou tua nudez radiante 02:41 vai respirar com maior leveza. Tua flecha atinge o alvo, mas cálidas ondas 04:01 fluem gentilmente da ferida. 05:30 Meus sentidos cambaleantes tremem ao contemplar esta hora doce e derradeira.
‘té mais!
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