Os Três Tenores, Parte 1

Todos os três tenores fizeram muito dinheiro cantando para uma vasta arena e público ao ar livre, e as atuações de óperas completas no palco têm escasseado. Pavarotti cantou com as Spice Girls e Roberto Carlos. José Carreras continua a fazer discos de música pop, chegando a cantar letras colocadas em obras originalmente escritas para instrumentos. E até Plácido Domingo, que ainda se mantém razoavelmente ativo em casas de ópera, atua frequentemente com cantores pop como Sarah Brightman, Dionne Warrick e Michael Bolton.

Do ponto de vista comercial, faz sentido ampliar os mercados clássico e pop com a fusão de ambos, e se trata de um caminho lucrativo para que os cantores assegurem seu pé-de-meia após a aposentadoria. Porém, se e quando eles resolverem fazer isto, valerá a pena recordar seus feitos. Luciano Pava rotti (foto)fez mais do que a maioria para popularizar a ópera, com sua presença carismática e personalidade. Sua voz tinha a pureza de um sino, e a naturalidade que é a inveja de todos os tenores. Seus sons brilhantes e cintilantes adornaram óperas de Verdi, Donizetti e Puccini. Suas várias gravações com Dame Joan Sutherland são clássicas e, no quesito beleza do som, ele é duro de vencer.

Se Pavarotti foi tido como o maior tenor do mundo, o tenor do po vo, Plácido Domingo (foto abaixo) não fica atrás como o tenor do aficionado. É o mais gravado da história, com um número inigualado de papéis. De Wagner a Puccini, ele emprega suas habilidades estimulantes, porém subestimadas, de atuação, e uma musicalidade soberba. Em termos de puro fôlego de palco, ele é especial. Enquanto Pavarotti gravou Otello com prudência, Domingo escalou este Evereste inúmeras vezes. Mesmo Gigli e Caruso jamais tocaram neste papel. Seus detratores dizem que ele não é um tenor, mas um barítono fora do lugar, enquanto seus admiradores veem os sons escuros de sua voz como um acréscimo interpretativo.

Espanhol como Domingo, José Carreras (foto) recebeu o maior impulso de su a carreira ao decidir formar os Trê Tenores enquanto conceito para angariar fundos para caridade. Sem jamais ter o nível individual de Pavarotti e Domingo, Carreras quase morreu de leucemia, mas teve uma recuperação impressionante, surpreendendo audiências do mundo todo com a garra e coragem que ele ainda conseguia levar a seus papéis. Suas parcerias emocionantes com Montserrat Caballé e Agnes Baltsa foram anos dourados em sua carreira. Como intérprete inteligente, ficou insatisfeito com os papéis unidimensionais do belcanto e, de maneira fascinante, começou a procurar desefios novos na segunda metade do séc. XIX, injetando vibração renovada nos papéis do verismo. Com sua coragem, e a “Visão dos Três Tenores”, Carreras é o herói popular. Mas todos os três são suficientemente coloridos para terem imagens próprias, que os gurus publicitários identificaram com rapidez.

Fonte: Revista Classic CD, nº 21

AUDIÇÃO E ANÁLISE

Os Três Tenores: Di Capua “O Sole Mio”

Uma das canções napolitanas mais populares, foi imortalizada quando um tenor cantou-a em um comercial de sorvete. Era uma escolha óbvia como bis, nesta gravação do primeiro recital dos Três Tenores, em Roma. Mas, sem se contentar com um cantor apenas, todos os três a cantam neste arranjo. Eles estão simplesmente jogando para o público quando cada tenor tentar ultrapassar o outro nas notas agudas, com Pavarotti particularmente indulgente nos portamentos. Depois de algumas brincadeiras entre os três cantores, a orquestra começa (00:04), com violinos e trompetes desfalecendo enquanto Pavarotti, que provavelmente é o que soa mais em casa neste estilo, introduz o tema de Di Capua.

A 00:50, Domingo canta uma linha, antes que Pavarotti cante novamente, acrescentando um trilo extraordinário de 01:09 a 01:16. A beleza pura e espontânea da linha que ele sustenta é de tirar o fôlego. A 01:54 os três tenores cantam a melodia juntos, com um dueto entre Carreras e Domingo a 02:26 precedendo o verso final, com todos os três dando a esta canção folclórica simples uma real feição operística. 

Domingo que vem, a segunda parte!

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