segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

50 Obras Revolucionárias - Nº 6 - Os últimos Quartetos para cordas - Beethoven

Ludwig Van Beethoven
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  • 6 - Os Últimos Quartetos para Cordas (1823-26) - Beethoven
Beethoven escreveu cinco grandes quartetos para cordas nos últimos anos de sua vida, obras tão audaciosamente avançadas e alheias aos procedimentos musicais tradicionais que, a princípio, foram vistas como impossíveis de serem executadas e ouvidas. O primeiro deles, em mi sustenido maior, Op. 127, apresenta os quatro movimentos usuais, mas é de uma escala muito maior que qualquer outro quarteto precedente, com enormes exigências para o ouvinte.

As três obras centrais são coleções de movimentos as vezes justapostos das maneiras mais incríveis, mas tendo em seu âmago a preocupação tardia de Beethoven de combinar a fuga com a sonata e, em geral, de conciliar os opostos. A fuga é uma forma em que um "tema" é tocado, sendo em seguida executado por outro registro, enquanto se desenvolve em direção a um clímax e uma conclusão quase geométrica. A sonata é uma forma ideal para se apresentarem e desenvolverem ideias em aparente oposição. No primeiro movimento do Quarteto em dó sustenido menor Op. 131, temos uma fuga que é também uma luta que não consegue se resolver; é o primeiro de uma feroz coleção de movimentos disparatados, que incluem um de enormes proporções e em variações. O Quarteto em si bemol maior Op. 131 originalmente terminava com a "Grande Fuga", com 16 minutos arrasadores e é tão audaciosa que até Beethoven comprometeu-se a escrever uma conclusão mais leve para substituir a original. O Quarteto em lá menor Op. 132 tem como centro um vasto movimento, não em uma tonalidade mas no modo antigo, em que perdemos nossos apoios musicais completamente.

Consideradas como um todo, estas são obras tão revolucionárias e poderosas quanto quaisquer outras obras musicais jamais escritas. Ignoradas durante longo tempo, foram admiradas por Wagner e produziram um efeito particularmente profundo nos maiores compositores de quartetos de cordas do século XX: Schoenberg, Bartók e Tippett.

Influenciados: Schoenberg, Bartók, Tippett
Gravação recomendada: Quarteto Italiano (Philips)

Texto extraído da revista Classic CD nº 20


AUDIÇÃO
Beethoven - Quarteto para cordas Op. 132

domingo, 30 de janeiro de 2011

Mais sobre o café (ou seria sobre o leite?!)


Há alguns dias escrevi um artigo chamado "Recado aos críticos: Separem o café do leite!", nesse texto, convidei o leitor a refletir sobre a maneira como é avaliada a música pop e utilizei como exemplo a última edição especial da revista Rolling Stone, que indica as "maiores músicas internacionais de todos os tempos".

Utilizei o recurso da ironia para abordar o tema, questionando a avaliação crítica que utiliza vários critérios para emitir seu julgamento, mas deixa um dos mais relevantes em segundo plano: a música em si.

Leia o texto na íntegra AQUI.

O artigo teve uma boa visitação e aproveito aqui para agradecer os leitores, principalmente os que comentaram, dando uma importante contribuição à essa reflexão. Entretanto, creio que o cerne da questão ficou um pouco de lado e achei por bem complementar o texto.

Em nenhum momento acusei a lista da Rolling Stone de ruim e nem de boa, e nem poderia fazer isso, afinal os critérios para as escolhas não foram esclarecidos pela revista. O que observei é que muitas justificativas das escolhas giraram em torno de letras, influências ou outros fatores complementares à música, deixando de lado ou com menor importância a música em si. Me repito, mas reafirmo que em minha opinião a música é composta de diversos elementos que podem ser criticados de modo individual ou em conjunto, a partir do momento que se estabelece as "melhores músicas de todos os tempos", sob que ponto de vista está se referindo? Diante das escolhas, não é exatamente sobre música que estão falando - daí a ironia.

Para tentar explicar melhor, cito aqui um trecho do grande pequeno livro de J. Jota de Moraes chamado "O Que É Música?" (Edit. Brasiliense), que tem um capítulo inteiro dedicado aos críticos:

"Como se sabe, no domínio da música não existe verdade absoluta. As linguagens artísticas são portadoras de significados múltiplos e, assim, são abertas a muitos tipos de leitura. Diante desses verdadeiros feixes de informações movediças, escorregadias portanto, o crítico vai tentar como que "desfolhar" algumas camadas de sentido, a fim de passá-las ao eventual leitor, através de um prisma escolhido previamente (...)
Pensando dessa maneira, seria possível emprestar significado ou dar importância a uma crítica se conseguíssemos localizar nela o quadro de referências a partir do qual um indivíduo emitiu um juízo."
Não sabemos os critérios da revista Rolling Stone para dizer se a lista é boa ou coerente, mas uma coisa é certa apenas por observar as músicas escolhidas, encontramos grandes obras de arte, mas não necessariamente as melhores músicas internacionais de todos os tempos. 

De qualquer forma, não é a lista que me incomoda, mas sim os críticos. A imprensa dita especializada, na prática tem apenas uma pequena porcentagem de seus integrantes efetivamente especializada em música. A grande maioria julga de forma empírica e pessoal, mal sabe formar um acorde maior ou ler uma partitura! Como podem analisar música se nem sabem o que é isso?

Chico Buarque: "O crítico, critica apenas a letra. A música, ele não consegue criticar." 












Quando um jornalista pretende seguir em um determinado segmento de sua profissão, como o jornalismo esportivo por exemplo, há um conteúdo especializado em sua formação que o gabarita a tratar do tema; e para o crítico de música, cadê a formação? Engana-se quem acha que só a "faculdade da vida" dá o embasamento necessário! É por causa desse tipo de informação deficitária transmitida por formadores de opinião despreparados que a população segue em sua ignorância, consumindo a maior quantidade de porcarias possíveis indicadas por esses senhores "donos da verdade".

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Série Música na Cabeça - Capítulo 4: A Influência da Música no Organismo


Por Flávia Nogueira
Musicoterapeuta, musicista
e professora de música
Autora do blog Música & Saúde


A música sempre foi uma constante na vida do ho­mem e, por isso mesmo, ela é tão antiga quanto a hu­manidade. Ela era utilizada em rituais, para diversão e até para curar doenças. Os primeiros relatos da música combatendo enfermidades foram encontrados em papiros médicos egípcios, milênios de anos antes de Cristo, os quais atribuíram ao encantamento da música uma influência na fertilidade da mulher. A música pode atuar sobre o ritmo cardíaco, a pressão sanguínea, a respiração cardíaca e inclusive sobre as glândulas endócrinas, liberando adrenalina e outros hormônios.

É também comprovado que a música influencia a condução elétrica do corpo e o equilíbrio do sistema nervoso, com isso provoca reações e deixa os nervos à flor da pele, “eriçados”. Enquanto há música que produz um equilíbrio na mente e no organismo todo, também há a música que acaba desestruturando totalmente as reações de nosso organismo, alterando os padrões considerados normais.

Os sons graves nas fórmulas rítmicas repetitivas, em batidas marcantes, com o volume acima de certo número de decibéis, com a atmosfera sonora criada pelos instrumentos e baterias usados na música popular, afetam diretamente a glândula Pituitária, ou Hipófise, localizada bem no meio da cabeça; excitam-na e fazem que seus hormônios influenciem todo o metabolismo do corpo, bem como as glândulas sexuais; enfim, afetam a química corporal por completo, fazendo o organismo se sentir num clima totalmente alterado. .(ARAUJO, 1998, p. 28).

O cérebro humano também pode ser alterado dependendo das exposições à musica, podendo ser esculpido por ela - Veja O  CÉREBRO DO MÚSICO.  

Na maioria das pessoas, o lado direito do cérebro favorece a análise da harmonia e do contorno melódico e o esquerdo mostra especial talento para processar o ritmo. Os músicos profissionais costumam ser tão analíticos que ocorre neles uma dominância do cérebro esquerdo.

A música é em geral percebida através da parte do cérebro que recebe os estímulos das emoções, sensações e sentimentos, sem antes ser submetida aos centros cerebrais envolvidos com a razão e a inteligência. Por estes motivos, acaba afetando a pessoa sem que ela se dê por conta, assim a resposta à música ocorre mesmo quando o ouvinte não está dando uma atenção consciente a ela.

Quando o som chega ao cérebro, ele irá atuar no sistema límbico (sistema primitivo do cérebro). Em uma situação de stress, medo ou tristeza, é enviada uma mensagem para o hipotálamo, que ordena a que liberação de hormô­nios específicos, gerando ao fim, a liberação de uma substância anestésica chamada cortisol.

Segundo estudos e pesquisas, a utilização da música em terapia (musicoterapia), é utilizada com sucesso no controle da dor crônica.

A liberação do cortisol citado acima faz com que a audição musical promova um efeito analgésico.

Em pesquisa realizada com pacientes com câncer no Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo, constatou-se que o uso da música gera efeitos fisiológicos semelhantes à morfina.

“A música tem o mesmo efeito que a morfina, pare­ce que tirou a dor de dentro de mim”.
Acho que ao invés de morfina, vou pedir uma dose de música clássica, o que você acha?”
No mesmo estudo, relatou-se que além da redução da dor, ocorreu maior equilíbrio nos valo­res dos parâmetros vitais, principalmente na frequência respiratória e frequencia cardíaca.



 Bibliografia

SACKS, Oliver. A grande orquestra do cérebro. Revista VEJA. São Paulo. n. 2027, 2007.
ARAÚJO, Dário Pires. Efeitos e usos da música. Belo Horizonte: Ed. Atrium, 1998.
RODRIGUES Keila Lages. A influência da música no corpo humano. Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física da ULBRA/Guaíba
FRANCO, Mariana e RODRIGUES, Andrea Bezerra. A música no alívio da dor em pacientes oncológicos. Trabalho realizado no Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Recado aos críticos: Separem o Café do Leite!


Apesar de saber que listas de melhores sempre são relativas, as divido em duas categorias: as listas pessoais, que em geral levam em conta o gosto pessoal, e na maioria das vezes pecam pela absoluta falta de critério e coerência; e as listas dos especialistas, que na minha opinião, são as que merecem análises e discussões. Digo isso porque os especialistas costumam levar em conta uma série de critérios, muitas vezes discutíveis, é verdade, mas muito melhor do que não ter critério nenhum, e os gostos pessoais costumam ser deixados de lado, fato que julgo essencial para que uma lista seja digna de crédito.

O que me motivou a escrever este artigo de opinião foi a recente leitura da edição especial da revista Rolling Stone - "As 500 Maiores Músicas de Todos os Tempos - Internacionais". Nela são apontadas as músicas mais importantes na visão de uma série de críticos e colaboradores da revista e artistas do ramo.

Sem dúvida, a lista é respeitável. Vários clássicos fundamentais são citados, mas faltaram alguns esclarecimentos, como quais foram os critérios adotados e por que toda a produção musical anterior aos anos 40 foi sumariamente ignorada. Acredito haver uma boa explicação para isso, mas ainda não foi essa a causa que me compeliu a escrever este texto.

Analisando as escolhas e os argumentos, notei que na grande maioria, foram ressaltadas a influência, a estética e principalmente a letra. Critérios legítimos e muito comuns nesse tipo de lista.

Entretanto pergunto: Quando haverá uma lista de melhores músicas levando em consideração a música em si efetivamente?

Recentemente, ouvi com atenção o disco Dreams de Grace Slick para postar uma resenha no blog Central Musical: Anos 80 (leia a resenha aqui) e fiquei surpreso com a qualidade musical apresentada - várias nuanças, variedades criativas nos andamentos, estilos, arranjos; melodias incríveis executadas com a qualidade habitual da cantora, pujança, etc. - e mais surpreso ainda com a crítica que o álbum recebeu - de 0 a 5 levou 2 e o argumento foi que a artista não havia escrito letras poéticas e desafiadoras como de costume. Letras??

Claro que letras são importantes, mas e a música, seria menos? A crítica em questão é musical ou literária? 

Apesar de entender que a música é um conjunto de elementos, a letra não é um dos fundamentais, afinal, se fosse, que valor teria uma obra de Bach, Mozart, Bethoven, Miles Davis, John Coltrane e tantos outros?

Imagine de John Lennon e Like a Rolling Stone de Dylan ficaram nas primeiras posições entre "as melhores músicas de todos os tempos" da Rolling Stone, são letras essenciais e tocantes - obras de arte! Mas tire as letras, tornar-se-iam medíocres.

A intenção não é depreciar estas obras definitivas, mas sim questionar as escolhas da crítica. Quando que as melhores músicas serão escolhidas por serem de fato as melhores músicas e não as melhores letras ou as melhores seja lá o que for?

Música e letra, como o café com leite, é uma ótima combinação, mas são elementos diferentes, que podem ser avaliados separadamente...

AFINAL, QUANDO IRÃO CONSEGUIR SEPARAR O CAFÉ DO LEITE? As maiores músicas de fato, irão agradecer!

Devido à polêmica do tema, escrevi um artigo complementar, para ler, clique AQUI!

domingo, 23 de janeiro de 2011

50 Obras Revolucionárias - Nº 7 - Prélude à l'après-midi d'un faune - Debussy

Claude Achilles Debussy
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  • 7 - Prélude à l'après-midi d'un faune (1895) - Debussy
Quando começou a música do século XX? Provavelmente em 1895, ano em que o Prélude de Debussy foi ouvido pela primeira vez. O compositor Gordon Jacob esteve presente à primeira execução na Inglaterra poucos anos depois. Ele lembra que, depois dos últimos compassos sonolentos e brilhantes, houve um silêncio total na platéia, que estava simplesmente perplexa demais para reagir de qualquer outra forma. Não se tratava tanto da impecável perfeição formal da obra, nem de sua admirável invocação do poema de Mallarmé ou de seu mundo sonoro único e ultrapessoal. O feito de Debussy fora conseguir articular uma nova percepção de como a música clássica ocidental podia realmente funcionar. O desenvolvimento do Prélude flui sem esforço, mas sua sensibilidade e abordagem técnica operam de forma muito diferente daquela da tradição clássica ou romântica. Suas frases sucedem-se de um modo cuja conexão é elíptica e não linear; embora se trate de música tonal, ela opera em uma tonalidade que se relaciona com as claves tradicionais de maneira estranha e sutil. Por exemplo, a frase sinuosa e flutuante tocada pela flauta e que inicia a obra é, a princípio, ouvida sem acompanhamento; depois, ouvimo-la de maneira idêntica, mas suavemente acompanhada pelas cordas da orquestra em ré maior; em seguida, tocada novamente de maneira idêntica, desta feita acompanhada em mi maior. Nenhuma versão soa mais definitiva ou imaginada de maneira menos bela que as outras. O jovem Debussy as vezes falava de seu apaixonado desejo de libertar a música das sufocantes convenções da tradição acadêmica. Seu Prélude mostrou exatamente o que ele queria dizer com isso.

Influenciados: quase todos os grandes compositores do século XX
Gravação recomendada: Jordan (Erato)

Texto extraído da revista Classic CD nº 20


AUDIÇÃO
Prélude - Debussy - conduzido por Boulez
Baixe AQUI!

sábado, 22 de janeiro de 2011

Nada se cria, tudo se copia!

Nem preciso falar nada, basta comparar os dois vídeos...


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Série Música na Cabeça - Capítulo 3: A Manipulação Através da Música


Por Flávia Nogueira
Musicoterapeuta, musicista
e professora de música
Autora do blog Música & Saúde


A música exerce um grande poder sobre o nosso emocional. Ela está presente em vários momentos da vida e se torna particularmente marcante em momentos especiais, como o primeiro encontro; o tema da formatura; a música do casamento e em tantos outros momentos. Cria-se um vínculo indissociável entre acontecimento e a música, e cada vez que a ouvimos novamente, as mesmas emoções daquele determinado momento ressurgem imediatamente. A música é, portanto, um poderoso condutor de emoções.

Por possuir uma capacidade ímpar de tornar as emoções potencialmente mais marcantes, a música tem sido utilizada como meio de manipulação muito eficaz.

Nesse 3º artigo da série “Música na cabeça”, trataremos da manipulação através da música, seja incitando o consumo de produtos ou vendendo uma imagem e até mesmo uma idéia e crença.

Estudos sobre o comportamento humano em relação ao som possibilitaram a criação de produtos culturais ou de mercado que gerassem no ser humano os efeitos desejados por quem os produziu. O cinema, desde seu início, aproveitou a música como grande reforço emocional em suas produções. E a publicidade fez o mesmo.

 A relação entre música, emoção e publicidade é muito estreita e sempre esteve presente na sociedade desde o momento em que houve a necessidade de se divulgar algo para um grande número de pessoas ao mesmo tempo.

A publicidade precisa seduzir, precisa encantar, criar um envolvimento indissolúvel entre a marca e o consumidor. E para isso ela lança mão, entre outros recursos, do uso da emoção. É através da emoção que a publicidade procura gerar lembrança ao consumidor, uma nova experiência vivida que ficou na memória. Da mesma forma que as campanhas publicitárias para venda de produtos, o cenário político também se utiliza com freqüência da música, produzindo jingles “clássicos”.

Ao se criar um jingle, existem preocupações mercadológicas sobre como a peça publicitária realizará sua tarefa de sedução e convencimento ao expectador, além de gerar lembrança da marca que a peça publicitária anuncia.

Aliando a música com o apelo visual, uma campanha consegue convencer o púbico que o produto anunciado possui qualidades sem precisar usar de grandes argumentos. Se o jingle produziu uma experiência agradável, sempre que o sujeito ouvi-lo, seu cérebro irá associar a experiência agradável com o produto, logo, o produto também agradará.

Mas, qual a estrutura ideal de um jingle? Como já vimos em artigos anteriores (ver Música simples X música complexa), o cérebro apresenta maior dificuldade em processar estruturas complexas, levando a pessoa a rejeitar, ou ter que ouvir muitas vezes para ocorrer a assimilação. A intenção de uma peça musical para o consumo, como são os jingles, deve ser a assimilação rápida. O sujeito deve ouvir e logo absorver, de maneira que fique rapidamente marcado em sua memória. Portanto, estruturas simples, não muito longas, são as preferidas. Dependendo do apelo emocional esperado, a escolha da harmonia e andamento também é fundamental.

Acordes maiores sugerem “abertura”, expansão, enquanto os menores remetem, em geral, ao recolhimento, melancolia. Porém, a escolha do andamento é fundamental. Estudos comprovam que, mais do que os acordes, o andamento parece apresentar associações universais.

Andamentos lentos remetem mais à sentimentos de  tristeza, enquanto os rápidos, à alegria. Ao unir adequadamente harmonias, andamento e imagens, temos o cenário para um jingle se tornar marcante, e a possibilidade dele “grudar” na nossa cabeça são muito grandes.

O uso da música para incitar e manipular não é “privilégio” da modernidade. Na antiga Grécia, a música era usada para encorajar os soldados, possuindo, inclusive, modos musicais próprios para isso.
A capacidade que a música oferece de conduzir e alterar estados emocionais, possibilitava aos lideres manipular estados de ânimo dos soldados, transformando situações desanimadoras em momentos gloriosos. No esporte o uso da música na alteração era e ainda é bastante utilizada. A música incita, estimula e sugestiona.

Outro meio em que música é bastante utilizada é em ritos religiosos e sagrados. Quando se trata de crenças religiosas, devemos sempre levar em conta a fé de cada pessoa. Falar em manipulação pode soar para muitas pessoas ofensivo às suas crenças, mas, certamente, não podemos negar a grande influência da música nos cultos sagrados, cristãos ou não.

Em muitas cerimônias africanas, é o ritmo dos tambores que convoca feitiços e espíritos. Desse momento em diante, instala-se uma espécie de ambiente eufórico conduzindo a pessoa ao transe. Neste estado alterado, conduzido pela música, a pessoa considera-se tomada pelo espírito invocado.

Nos cultos cristãos, dificilmente vemos ausência de música, normalmente precedida de momentos “chave”, como a entrada do pregador, do sermão, orações e pedidos de oferta.  A música torna-se um vetor que sensibiliza o ouvinte, tornando-o mais suscetível aos apelos emocionais.

Novamente a escolha do ritmo, andamento e harmonias conduzem a estados emocionais alterados, de acordo com a intenção pretendida.

Por outro lado, penso que nem sempre o uso premeditado da música deve ser visto negativamente. A manipulação pode estar vinculada a idéia de “influência”, e tal pode ser positiva.

O uso para estimular, por exemplo, como os usados nos esportes e reabilitação física, é muito bem vindo. A potencia estimulante e prazerosa que a música provoca, age como um condutor saudável. Muitas pesquisas têm demonstrado que o uso da música em muitos casos diminui o uso de substâncias químicas, como medicamentos e estimulantes, já que a música provoca efeitos semelhantes.

Portanto, embora a imagem remetida pelo termo manipulação seja em geral negativa, é possível que em muitos casos seja utilizada de maneira benéfica. Ninguém quer ser manipulado, pois isso gera a sensação de não autonomia, não liberdade.  Porém, em geral, todos sofreram influências e manipulações por toda a vida. Seja dos pais, dos cônjuges, dos filhos, do patrão, da mídia. Somos modelados pela sociedade a fim de nos sentimos mais satisfeitos e principalmente, aceitos.

A vida em sociedade de certa maneira nos obriga a aceitar as manipulações impostas, porém, creio que uma pessoa dotada de discernimento e consciência, será mais dificilmente manipulada indiscriminadamente. Penso que a aceitação imediata e inconsciente daquilo que lhe é imposto molda uma sociedade frágil, sem poder crítico, movida pelos interesses dos formadores de opinião.

A música, por todas as suas características e variáveis, pode ser sim um instrumento moldador e formador de opiniões, devido o seu poder de marcar e gravar na memória de quem a escuta de maneira rápida e por um longo período de tempo.

Por outro lado, toda essa potência pode sim ser usada e desfrutada por ouvintes conscientes que conseguem absorver dela influências boas e prazerosas.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Formação do Gosto Musical - Parte 7: Os 4 maiores agentes formadores do gosto - 4º Erudição


Para a boa compreensão deste artigo, é imprescindível a leitura prévia dos artigos anteriores, caso ainda não tenha lido, utilize os links abaixo: 

Ao ler o título pomposo deste quarto elemento formador do gosto pode-se ter a falsa impressão de que ele é restrito aos acadêmicos da música. Apesar deles certamente estarem inclusos neste contexto, não é a eles em especial que me refiro. A ideia é me referir a alguma espécie de aprofundamento, seja ele teórico ou não.

É muito comum, quando temos interesse por alguma música ou estilo, termos despertada nossa curiosidade para conhecermos mais e melhor. Esse interesse pode surgir quando já gostamos de alguma banda, artista ou gênero, graças a algum dos outros fatores formadores do gosto, ou pode surgir por mera curiosidade, primariamente, e ao adquirir certo conhecimento, seja de forma acadêmica ou empírica, essa "erudição" passa a agir na formação de nosso gosto.

Um exemplo pessoal foi quando tive o interesse em conhecer música clássica. Muitas pessoas que eu respeitava insistiam que era excelente, apesar de sempre ter isso em mente, nunca tive uma exata noção das razões desse tipo de música ser tão boa, e passava longe do meu gosto pessoal, salvo alguns temas clichês. Ao me debruçar sobre o assunto, percebi que o termo "clássico" era uma generalização incorreta para descrever estilos musicais tão diversos entre si, que havia um grande abismo nas formas musicais de um Barroco e um Romântico por exemplo. 

O Barroco era desagradável para mim, uma proliferação de notas quase infinitas, era demais para absorver... Ao me aprofundar neste estilo, entendi sua forma horizontal de composição, as fugas e tantos outros aspectos fascinantes desse estilo musical. Com todo esse esclarecimento, parece que um universo totalmente novo se abriu diante de meus ouvidos, e ao ouvir as músicas, passei a perceber o que havia ali; pude entender a criatividade, o inusitado, o brilhantismo, a originalidade de cada compositor, o "caminho" percorrido pelas músicas. Isso tudo tornou-se belo para mim e com o passar de algum tempo e muitas audições, passou a fazer parte do meu gosto.

Esse tipo de erudição pode vir de qualquer estilo musical - do mais simples ao mais complexo (em todos os sentidos) - quanto mais nos aprofundamos em conhecimentos sobre eles, em geral mais gostamos. Apenas com essa bagagem podemos ter clareza para afirmar se determinada música é boa ou ruim, independente de gostarmos dela ou não. Apenas assim conseguimos perceber que não existe um estilo ou gênero musical ruim, assim como época que presta ou que não presta, mas músicas boas e ruins dentro de cada um deles.

Muitos ouvem música de forma emocional, e é muito prazeroso aproveitá-la dessa forma, mas há também outra maneira, também muito prazerosa e que pode amplificar ainda mais as emoções - a forma racional - entender o que acontece de fato nas composições, por quais caminhos ela segue, ser surpreendido com a originalidade e o inusitado dos compositores e passar a gostar cada vez mais e com mais força dessa maravilhosa forma de arte chamada música!



terça-feira, 18 de janeiro de 2011

50 Obras Revolucionárias - Nº 8 - Pélleas et Mélisande - Debussy

Claude Achilles Debussy
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  • 8 - Pélleas et Mélisande (1902) - Debussy
Pélleas é importante tanto pelo que é pelo que não é. Uma geração de compositores franceses de ópera, entre eles Chabrier, Chausson e Lalo, foi eclipsada por Wagner, produzindo mistos canhestros de sensibilidade francesa e épico alemão. Debussy, que fez a peregrinação a Bayreuth em 1888 e 1889, também sentiu essa atração, mas reagiu vigorosamente a ela, buscando uma forma diferente de expressão músico-dramática. Encontrou-a na atmosfera de sonho, "semifalada" da popular peça Maeterlinck. O resultado é, ao mesmo tempo, wagneriano e antiwagneriano. Wagner, como reconhecia o próprio Debussy, esvoaça constantemente pela textura musical inconsútil, com o ocasional leitmotif fragmentário, e nas cores orquestrais que delineiam a sombria floresta, os jardins, os calabouços, a luz súbita e o ar fresco à medida que Pélleas sobe a torre do castelo. Na ópera encontramos uma citação direta do Parsifal. Contudo, não existem herois épicos; o caráter é de silêncio e sonho, só brevemente luzindo com brilho ou energia. As palavras são musicadas de maneira simples, sem torrentes líricas titanescas, as vezes seguindo os ritmos da fala, embora indelevelmente fundidas com a música. A partitura é leve e translúcida, caracteristicamente fluida e não descritiva, com as harmonias fugidias e evasivas como a luz, cheias de escalas modais, acordes não resolvidos e dissonâncias sutis. Pélleas deriva dos movimentos simbolista e pré-rafaelista, mas, em termos musicais, lembra as técnicas impressionistas. Foi uma obra bastante apropriada para saudar o século XX, reconhecendo e rechaçando a sombra wagneriana e inaugurando maior liberdade estilística e um novo rumo para a ópera francesa; com ela, a ópera como um todo pôde-se desenvolver.

Influenciados: a ópera como um todo.
Gravação recomendada: Abbado (DG)

Texto extraído da revista Classic CD nº 20



Veja aqui um trecho da ópera!


AUDIÇÃO


Pélleas et Mélisande - CD 1 - Abbado


Baixe aqui Pélleas et Mélisande completo
Parte 1, Parte2

domingo, 9 de janeiro de 2011

50 Obras Revolucionárias - Nº 9 - Das Wohltemperierte Klavier (O cravo bem temperado) - J.S. Bach

Johan Sebastian Bach
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  • 9 - Das Wohltemperierte Klavier - O cravo bem temperado (1722/1738-42) - J.S. Bach
JS Bach - o maior de todos?
Bach revolucionário? Sem dúvida, trata-se de algum engano! Os contemporâneos o rechaçaram como anacrônico. Em certo sentido, eles tinham razão. O futuro, parece, pertencia a seus filhos, em particular C.P.E. Bach. Contudo, em um sentido real, Das Wohltemperierte Klavier (O cravo bem temperado), completada em dois volumes em 1722 e 1742, foi uma obra revolucionária em seu conceito e notável em seu conteúdo (menos) revolucionário. Ela foi revolucionária porque ninguém tinha, até então, tentado utilizar de maneira sistemática todas as tonalidades do sistema diatônico, e o que Bach quis dizer com "bem temperado" deve ter sido uma afinação para instrumentos de teclado que não excluía nenhuma tonalidade, como havia feito o temperamento desigual. Algumas das peças certamente estão de acordo com as noções barrocas de como uma tonalidade deve se comportar - o brilho do ré maior ou a tragicidade do fá menor, por exemplo -, mas onde estava o precedente para, digamos, o até então obscuro dó sustenido maior? Se o "48" aponta para novos rumos, sua influência foi imensa em outros sentidos. Mendelssohn pode ter apresentado Bach ao público frequentador de concertos, mas os compositores, na verdade, nuca o haviam esquecido. Mozart aprendeu e digeriu a composição de fuga por ele propiciada, Beethoven recomendava o "48" aos pianistas iniciantes. Mendelssohn, é claro, tornou-se de amores por Bach (e graças a seu professor Zelter), e até o arqui-romântico Schumann tinha um retrato de Bach em cima do piano, enquanto Chopin pagou suas dívidas de adolescente ao mestre com seus próprios 24 prelúdios. No século XX, Rachmaninov também compôs um conjunto similar de 24 prelúdios, Chostakovich conseguiu proeza maior, ao compor 24 prelúdios e fugas!

Influenciados: Mozart, Beethoven e muitos outros
Gravação recomendada: Davitt Maroney (Harmonia Mundi)

Texto extraído da revista Classc CD nº 20


Mestre pianista Glenn Gould interpreta o Prelúdio e Fuga em A


Impressionante! Visualize através de gráficos as 4 vozes da fuga em dó maior!


AUDIÇÃO
O Cravo Bem Temperado - Os Primeiros Prelúdio e Fugas - com Daniel Chorzempa ao cravo




Baixe aqui a obra completa: Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 4

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A Formação do Gosto Musical - Parte 6: Os 4 maiores agentes formadores do gosto - 3º Disposição


Para a boa compreensão deste artigo, é imprescindível a leitura prévia dos artigos anteriores, caso ainda não tenha lido, utilize os links abaixo: 

Nos artigos anteriores, entre outras coisas, observamos que a formação do gosto musical inicia seu processo no ser humano quando ele ainda se encontra no útero de sua mãe; definimos que o gosto musical são padrões cerebrais consolidados e que, sempre que ouvimos uma música inédita, nosso cérebro procura por similaridades e, se não as encontra, a tendência é que o indivíduo a rejeite, a não ser que um dos quatro grandes formadores do gosto atuem. A atuação desses fatores pode ser individual, mas o mais comum é que atuem simultaneamente, em sequência ou de forma cíclica. Até aqui, já abordei dois deles: o Costume/Repetição e a Associação; hoje tratarei do terceiro, aquele que passa a ter atuação seletiva a partir da idade em que já podemos emitir julgamentos de forma consciente ou inconscientemente, e que a partir desta época, costuma ser o primeiro grande fator formador do gosto a exercer influência. Para facilitar nosso estudo, resolvi chama-lo de Disposição.

A Disposição Consciente

É muito comum, principalmente quando ainda somos jovens, a tal da "busca de identidade" para que tentemos alguma integração. Como essa busca está intimamente ligada a questões sócio-culturais, fatalmente a música se torna parte integrante dela. Outras questões relevantes a serem consideradas nessa busca, é a personalidade que este indivíduo já tem ou a que ele gostaria de ter. Diante disso, a pessoa terá disposição para gostar de certas músicas para ser parte integrante de um grupo social ou para corresponder às suas expectativas emocionais.

Um exemplo: para estar "por dentro", o indivíduo tem disposição de gostar das músicas que estão na moda. Se estas músicas, por acaso ainda não encontrarem padrões cerebrais, eles poderão ser criados a partir do auxílio de outros fatores formadores do gosto, como o Costume/Repetição por exemplo.

Se a pessoa tem personalidade (contrariando Jung, para mim não existe "personalidade forte", ou se tem ou não) e uma boa base cultural, ela dificilmente será manipulada por modismos ou outros fatores externos, ela terá disposição por si ou por convencimento através de bons argumentos.

A Disposição Inconsciente

Músicas que fogem dos padrões do indivíduo e as com alto grau de complexidade (o quão alto, é relativo ao nível cultural de cada um), normalmente não terão a sua disposição inconsciente, ou seja, você provavelmente não irá gostar na primeira ouvida, pois ela tenderá a ser irritante ou enfadonha. Entretanto, se a música satisfizer essas condições iniciais (fizer parte de seus padrões e/ou cultura) e não ativarem os seus preconceitos, ela encontrará sua disposição automática.

Observação importante!! - ao citar o "nível cultural" de modo algum me refiro a burrice, mas à falta de acesso. No contexto, o conceito que atribuo é que quanto maior a cultura musical da pessoa, maior o repertório de padrões cerebrais e portanto maior chance de as "novidades" serem encaixadas nestes padrões, o que aumentaria muito a Disposição em comparação com indivíduos com menos padrões.

A Falta de Disposição

Pessoas com baixo nível cultural têm a tendência a se fechar à maioria das músicas, pois para elas quase tudo é novidade; e quando esse baixo nível cultural é associado a algum preconceito, o fator Disposição fica totalmente impedido de agir e dificulta grandemente a ação inclusive dos outros grandes fatores formadores do gosto, criando uma intransponível barreira.

Outra coisa que dificulta a ação do fator Disposição é a idade. Embora varie para cada indivíduo, quanto mais avançamos em idade, menos disposição temos para coisas novas, e as causas são biológicas mesmo, pois quanto mais velhos ficamos, menor vai ficando nossa capacidade de processamento, então a tendência é que nos agarremos aos padrões cerebrais já consolidados, e aí surge a famosa frase: "Boas eram as músicas do meu tempo..." - e o preconceito: "...porque as de hoje não prestam!" Digo preconceito pois não é possível que TODAS as músicas recentes sejam ruins e mesmo que sejam, para fazer um julgamento isento, para começar, é necessária a Disposição que claramente já não há em quem emite uma frase dessas. Contudo, embora essas coisas aconteçam com bastante regularidade, de modo algum afirmarei que as pessoas presas ao passado ou restritas a apenas alguns poucos estilos musicais/artistas sejam preconceituosas ou incultas, mas acredito que para que isso não seja uma verdade, um quarto grande fator formador do gosto deva entrar nessa alquimia. Trataremos dele no próximo artigo, até lá!



Até aqui, qual sua opinião? Utilize os comentários, vamos explorar a questão!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Série: Música na Cabeça - Capítulo 2: Música Simples X Música Complexa



Por Flávia Nogueira
Musicoterapeuta, musicista
e professora de música
Autora do blog Música & Saúde


É difícil conceber um mundo sem música. Ela está intimamente enraizada em nossa experiência íntima, carregando memórias e emoções.

Ao nascer, já se sabe que bebês são capazes de distinguir entre escalas musicais, preferem harmonias consonantes em detrimento às dissonâncias e são aptos a reconhecer canções com facilidade.

Apesar da pouco repertório de informações, o bebê já demonstra um preparo básico para poder decifrar o mundo musical. Portanto, todos nascem com uma habilidade básica para música, não sendo necessário muito mais do que ouvir canções entoadas pela mãe, no rádio, na televisão para nos tornarmos musicais. Vemos isso no nosso país, dizem que o povo brasileiro é musical por natureza, e isso lá tem seu fundo de verdade...

Pensemos no caso desse bebê ser exposto a experiências musicais mais profundas, como audição de músicas com estruturas mais complexas, dificilmente tocadas nas rádios, (salvo poucas exceções) tais como peças eruditas, jazz, bossa nova, ou qualquer construção que ofereça ao cérebro desafios de processamento. A quase ausência de repertório “difícil” nas rádios se deve especialmente pelo fato de que a exposição de estruturas complexas não é aceito com facilidade por qualquer ouvido. A dificuldade inicial do cérebro no processamento dessas músicas gera irritação na maioria das pessoas.  Sabe-se que é um desafio muito maior processar uma construção de inúmeras harmonias, ritmos que se alteram constantemente, grande variedade de instrumentos tocando em uma mesma peça, do que processar melodias simples, harmonias de 3 acordes, no máximo 4 instrumentos diferentes e ritmo que praticamente não se altera. Não julgo aqui a qualidade estética da música, não quero de forma alguma afirmar que uma música é melhor se for mais “difícil”, e que músicas simples são ruins. Apenas discorro sobre os efeitos que esta diferença de estruturas musicais pode causar no desempenho cerebral.

O Efeito Mozart

Recentemente, falou-se muito do “Efeito Mozart”. Afirmava-se que após a audição de peças desse compositor, o desempenho cognitivo se tornava melhor, ou seja, as pessoas ficavam “mais inteligentes” após ouvir trechos de Mozart. Considerado prodígio, o compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) começou a compor aos cinco anos de idade, e até hoje suas obras são reconhecidas como geniais. Na época, ganhou reconhecimento da crítica especializada, embora muitos considerassem suas obras excessivamente complexas.

A idéia de que a audição de peças clássicas por bebês o tornavam mais inteligentes, levou as gravadoras a produzirem uma enxurrada de Cds com músicas do repertório clássico especialmente para bebês.

Porém, até hoje, nenhuma pesquisa comprovou que a eficácia do Efeito Mozart seja duradoura. Muitas músicas podem sim liberar neurotransmissores capazes de fazer o cérebro funcionar com maior rapidez. Pesquisas comprovam que ouvir músicas que nos agradam, sejam elas quais forem, despertam efeitos semelhantes aos encontrados no Efeito Mozart. Assim foram encontrados os Efeitos Nirvana, Efeito Bach, Efeito Iron Maiden, e tantos mais.

Atualmente, estudos sugerem que os efeitos que a audição desperta em uma pessoa provém de pelo menos duas fontes:

  • A audição de músicas complexas: responsáveis pelo acionamento de um grande número de estruturas neurais, já que o desafio apresentado requer um grande número de áreas cerebrais a fim de realizar o processamento. Essa afirmação pode explicar o efeito ocorrido no cérebro ao ouvir as peças de Mozart, consideradas difíceis e complexas;
  • A audição de qualquer peça que seja significante: a experiência musical significativa produz marcas profundas no córtex cerebral. Portanto, independente da estrutura e grau de complexidade, as músicas carregam experiências emocionais marcantes, sejam elas positivas ou não, de qualquer maneira, uma música marcante é capaz de acionar grandes áreas cerebrais, atuando como um dispositivo e gerando efeitos diversos.

Segundo pesquisas, a audição é capaz de integrar grandes áreas cerebrais, entre elas, aquelas responsáveis pela cognição e emoção. Portanto, a música integra simultaneamente tanto processamentos emocionais como racionais, por outro lado, os efeitos no cérebro causados pela audição passiva são geralmente passageiros, a audição musical, mesmo prolongada, não é capaz de alterar a estrutura neural.

Podemos considerar que as pesquisas sobre os efeitos da música sobre o cérebro humano ainda estão no início, embora muitas descobertas importantes já tenham sido realizadas. O que se pode comprovar até agora, é que a audição de peças complexas, aliadas às inúmeras significações acionadas pela escuta, representa um enorme desafio para o cérebro, e que, apesar de não tornar seres mais “inteligentes”, melhora a capacidade de concentração, atenção, percepção e principalmente, colabora muito na construção de um ser mais sensível e aberto para desafios e novidades, muito além das imposições “enlatadas” oferecidas pela mídia.

Não perca os próximos capítulos da série "Música na Cabeça"!

Para ver o que já foi postado, clique AQUI.

domingo, 2 de janeiro de 2011

50 Obras Revolucionárias - Nº 10 - Ionisation - Varèse

Edgar Varèse
Começou a contagem regressiva para conhecermos a obra musical mais revolucionária de todos os tempos!
A partir de agora as matérias terão mais conteúdo pra você!




Para conhecer o projeto "50 OBRAS REVOLUCIONÁRIAS", clique AQUI!

  • 10 - Ionisation (1929-31) - Varèse
Desde a controversa estreia de Ionisation no Carnegie Hall de Nova Iorque em 1931, compositores eruditos e/ou rivais questionaram seu status como primeira obra a ser escrita inteiramente para percussão. Contudo, 80 anos depois, ela continua a ser a irrefutável obra-prima de seu gênero, e muitos diriam (apesar das numerosas imitações), a única. Uma partitura exclusivamente para percussão era uma ideia que estava sendo amadurecida, visto que esta até então subdesenvolvida seção da orquestra começava a assumir vida própria no século XX.

Outro avanço importante havia sido Amériques do próprio Varèse, cujas nove elaboradas partes para percussão tocavam em paralelo e de maneira bastante independente do resto de uma enorme orquestra. Mas apesar de todo o radicalismo de sua concepção, as forças musicais de Ionisation são notavelmente clássicas. Seu único movimento de seis minutos é brilhantemente conciso, sem uma única nota a mais; existe um elemento reconhecível e convincente da forma tradicional da sonata em sua estrutura bem definida; e a decidida vivacidade da invenção rítmica de Varèse faz a música soar com tal frescor que parece ter sido escrita ontem.

Certa vez, um comentarista notou que o par de sirenes que zumbem absurdamente ao longo da música assume o papel, no contexto da altura (quase sempre) indefinida dos outros instrumentos, do par de trompas em um dos Divertimentos de Mozart para trompas e cordas. Isto é deliciosamente verdadeiro. E também é verdade que a obra sobrevive alegremente graças à legendária reputação de evocação do trânsito congestionado de Nova Iorque, a cidade de adoção de Varèse.

Influenciados: Obras subsequêntes para percussão
Gravação recomendada: OFNY/Boulez (Sony Classical)

Texto extraído da revista Classic CD nº 20


Confira Ionisation regida por Boulez


AUDIÇÃO
Ionisation - Varèse

Baixe AQUI Ionisation
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